26/01/2023
Recebi esse texto e partilho de um homem de cultura a propósito da maka de ser ou não ser SEMBA...
Sirvo-me desta para dizer que há por aí uma confusão sobre a definição do ritmo da música Choro do Semba que na minha modesta opinião e com base nos meus "parcos" conhecimentos musicais é um semba original, puro, com batida de Semba de raiz que faz lembrar o Mestre Xodó do N'GOLA RITMOS. A música foi muito bem executada e bem gravada, honra seja feita ao autor e aos instrumentistas...
Para analisar!
Nesta música é necessário ter em conta a marcação rítmica das congas, da bateria, da dikanza e das células rítmicas do violão de semba com o qual se executou a harmonia. Quanto a melodia, uma parte foi executada com uma guitarra eléctrica com distorção e outra com uma guitarra electro acústica que pelo timbre me parece ser uma Godin Multiac Nylon Acs, o que é muito normal, podia por exemplo ter sido tocada com um clarinete, oboé, trompete, saxofone, com um xilofone ou qualquer outro instrumento e nunca deixaria de ser semba, tendo em conta a sua base.
Repare que no inicio da modernização da nossa música, no Semba só havia uma guitarra solo que também fazia ritmo e harmonia, uma ou duas congas, uma dikanza e uma caixa. Vejamos Os Gingas, Negoleiros do Ritmo, Fogo Negro, N'gola Melodia, Ilundo, Ana Zanga, Dikanzas do Prenda, os Kiezus, N'gongo e muitos outros. Depois os Kiezos com Humberto Vieira Dias, introduziram a guitarra ritmo que também fazia baixos, logo a seguir 1967/69, introduziram a guitarra baixo de quatro cordas que era tocada com palheta, conforme tocava o Carlitos Vieira Dias, quando era baixista do conjunto Negoleiros do Ritmo.
As vezes os solistas usavam efeitos nas guitarras, com pedais como por exemplo o famoso pedal "uão uão" que quase todos tinham. Posteriormente introduziram a bateria e os sopros. Lembo-me que o primeiro conjunto de Ritmos Angolanos a ter sopros foi o Águias Reais (1966/67) com o Costa e o José Manuel que foram alunos do Maestro Gentil, na Casa Pia de Luanda e também foi meu professor de Teoria Musical e saxofone na Mocidade Portuguesa nos anos 62/66, mais tarde deu aulas na Casa dos Rapazes onde estavam o Nandinho hoje "Nanuto, Sanguito" dentre outros. Na altura o Nanuto era clarinetista na banda de música da Casa dos Rapazes. Depois, acho que em 1968/70 o África Show introduziu o órgão com o Tony Galvão e assim fomos evoluindo até hoje.
Com a vinda dos Kassav no final dos anos 80 os jovens músicos da época como Eduardo Paim, Simon Mansini e outros, começaram a imitar as harmonias e as células ritmicas das congas do Zouk e do Kompass e chamaram-lhe "Kizomba".
Não podemos estar a confundir o Semba com o Kizomba porque são totalmente diferentes é só ouvir a batida das congas e identifica-se logo...
Procuremos desmistificar essa confusão que alguns jovens formadores de opinião da nossa praça estão por aí a fazer em torno dos ritmos angolanos, "Semba e Kizomba". A batida do semba tem a sua origem nas células rítmicas da Massemba do qual herdou o sufixo Semba. A massemba era executada pelos agrupamentos musicais que eram chamados de Grupos de Rebita, como por exemplo a Rebita Muxima N'gola, a Rebita Presidente Américo Tomás, o Grupo de Rebita Invictus, etc, que executaram um ritmo musical com dikanza e acordeon ou N'gaieta como se usava chamar aqui na nossa urbe, seguida pelo canto e o coro das damas e cavalheiros que executavam a dança de salão angolana que era coreografada com várias massembas, termo esse que em português significa Umbigada. Daí o nome Semba.
O ritmo Kizomba que em português significa festa, farra ou baile e também era usado para definir os grupos de dança do carnaval na época, tem origem no Zouk da Martinica, Guadalupe, Trindade e Tobago, e no Kompass do Haiti.
Que fique bem claro que "O SEMBA É PATRIMÔNIO CULTURAL ANGOLANO". Foi levado pelos escravos para o Brasil e lá misturou-se com outras culturas e virou Samba e não pode ser confundido com outros rimos como estão a fazer com a Massemba e estão a chamar "Ritmo Rebita".
Rebita não é um ritmo musical angolano é simplesmente o nome que se dava aos agrupamentos musicais que executavam o ritmo Massemba, como depois surgiram outros grupos que se chamaram Conjuntos e agora chamam "Bandas".
Fique com Deus.
UM KANDANDU.
By: Joaquim Vieira Dias