19/12/2023
É fato. Não é de agora que o Papa Francisco pode ser reconhecido como alguém que trouxe novos ares para a Igreja Católica, se a ala conservadora da Instituição não o ‘cancelar’ primeiro.
Vi comemorações pelo documento que autoriza benção a casais do mesmo s**o. Mas pouca coisa mudou.
Não se trata de um reconhecimento daquela dignidade inerente a cada pessoa, independentemente de sua orientação sexual. Ainda menos do reconhecimento das uniões homoafetivas, já que nada no documento, nem de longe, faz referência a alteração da doutrina católica sobre casais, tampouco sobre casamento.
Pode abençoar, mas não pode ser com uma missa, nem com uma celebração, nem em outra liturgia qualquer. Pode abençoar como se abençoa um carro, uma casa, ou um animalzinho de estimação…
Um padre pode querer não dar a benção. Nada o obriga. Aliás, é uma benção que só pode ser dada a casais que, diz o documento, “não reivindicam a legitimidade do seu próprio status”. Quem achar legítimo o amor entre duas pessoas, não pode receber a benção da Igreja…
Quando me tornei professor de teologia moral, no mestrado havia um professor que dizia: “a Igreja Católica é como um enorme transatlântico. Toda mudança de rumo deve acontecer de forma lenta e gradual, pois se for brusca, o barco tende a afundar”.
Felizmente, desde que a Igreja permitiu às pessoas lerem a Bíblia e às mulheres foi liberado não usar mais o véu, ou ainda, desde que se fez uma opção pastoral por não ficar condenando mais quem perdeu a virgindade antes do matrimônio ou tomou pílula anticoncepcional… temos algumas razões para acreditar que a Igreja, assim como as pessoas, evolui.
No mais, no lugar de uma benção, a Igreja Católica deveria era pedir perdão. Muitos g**s e lésbicas sofreram e sofrem coisas inimagináveis no seio de famílias cristãs que acreditam que a salvação tem mais a ver com quem vc coloca na cama, que com o mandamento do amor: amar a Deus e ao próximo, como a ti mesmo.
Tarefa difícil essa de amar quem é diferente da gente. Mas tarefa ainda maior é se pautar pelo que realmente importa, deixando o quem ama quem como um assunto meramente pessoal.