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21/03/2024
papaiii... é você?!
MORTE E POSTERIDADE DE AKHENATON
Após cerca de 16 ou 17 anos, o reinado de Akhenaton termina com sua morte. Ele deveria ter entre 30 e 34 anos quando isso ocorreu, já que no ano 4 de seu reinado já era pai de 3 filhas, sendo então pouco provável que tivesse menos de 14 anos quando começou a reinar.
Antes da invenção da penicilina, mortes na juventude não eram raras, e poderiam ocorrer por infecções simples e, no caso do Antigo Egito, havia a exposição à malária, então endêmica na região, e a parasitas contidos em águas paradas às quais membros da realeza e do clero poderiam se expor pela prática dos banhos sagrados de purif**ação ritual. Seja qual for a causa mortis do faraó, aparentemente seu legado de mudanças não foi imediatamente suprimido. A corte real em Akhetaton funcionou pelo menos por mais uma década, e a cidade continuou a ser ocupada até o começo da dinastia seguinte, segundo a arqueologia. Aton continuou a ser cultuado tanto ali, como em Tebas e Mênfis, como registra os títulos de alguns dignitários que serviram a soberanos que o sucederam no trono.
No entanto, o culto exclusivo a Aton já não existia mais. As atividades nos templos de Luxor e Karnak, assim como nos das outras grandes divindades foram plenamente retomadas, sumos-sacerdotes renomeados e recursos redirecionados. Nada indica que tenha havido algum tipo de revolução de retorno, e várias pessoas que foram parte da revolução amarniana foram reconduzidas a funções relacionadas ao culto de deuses tradicionais.
A memória de Akhenaton tampouco foi imediatamente perseguida, mas, curiosamente, sua terceira filha, Ankhesenpaaton, que se tornou a rainha de seu segundo sucessor, trocando eventualmente seu nome para Ankhesenamon, não teve incluído em seu protocolo o título de “Filha do Rei”, como seria de praxe. Isso pode ter sido um primeiro reflexo de uma retaliação por parte do clero de Amon. Seu possível primeiro sucessor, Smenkhare já não tinha tanto apego ao culto de Amon.
Ele, aparentemente começou a reinar como co-regente de Akhenaton, tendo seu nome mudado para afirmar esta ligação especial com o faraó, sendo chamado de Ankh-kheperure, Amado de Uaenrê (Unigênito do Sol, um dos nomes-títulos de Akhenaton). Akhenaton havia então, com a possível morte de Nefertiti, elevaro sua filha mais velha, Meritaton, ao posto (talvez meramente ritual) de Grande Esposa Real, com as imagens de Nefertiti no templo dedicado a ela em Akhetaton sendo alteradas para se parecerem com Meritaton, potentados estrangeiros escrevendo para ela chamando-a de “Senhora do Egito” e mostrando deferência, etc. A existência de uma princesa chamada Meritaton Tasherit (A Pequena Meritaton) se fez criar uma especulação que pai e filha teriam consumado sua relação produzindo uma filha. Mas é mais provável que a Tasherit fosse simplesmente uma filha de Akhenaton com uma esposa secundária. Houve também uma Ankhesenpaaton Tasherit, que pode ter tido a mesma origem, e não filha de Akhenaton com sua filha Ankhesenpaaton.
Seja como for, logo após a morte de Akhenaton, Meritaton estava casada com Smenkhare, que assumia seu nome de nascimento junto ao epíteto dado por Akhenaton, enquanto que, aparentemente, Meritaton recebia um epíteto parecido, o de Ankhet-Kheperure, que é ef**az ao seu marido (Akhenihes). Não se sabe exatamente a relação de parentesco (se é que havia uma) entre Akhenaton e Smenkhare, mas é muito provável que fossem irmãos. Um pavilhão extra, construído no Grande Templo de Aton em Akhetaton, foi aparentemente destinado a um dos rituais de coroação de Smenkhare, que ordenou também a construção de um templo funerário para si em Tebas. Talvez o mesmo que foi sucessivamente usurpado por Tutankhamon, Ay e Horemheb. Depois de 3 anos de reinado, parte dos quais em co-regência com Akhenaton, Smenkhare também morre e é sucedido por Tutankhamon, casado com a já mencionada segunda filha mais velha sobrevivente de Akhenaton.
Tutankhamon, inicialmente chamado de Tutankhuaton deixou, enquanto príncipe, algumas inscrições em Amarna, o que leva a especular que ele tenha nascido e crescido lá (o que não foi o caso de Smenkhare, provavelmente nascido e criado em Tebas) e fosse, portanto, filho de Akhenaton.
“KV 55”
A tumba real KV 55, descoberta pelo arqueólogo amador Edward Airton e por Theodore Davis em 1907 teve sua propriedade identif**ada pelo egiptólogo Arthur Weigall como sendo da Rainha Tiye, pelo fato dela figurar em destaque na mesma. A tumba havia sido selada no reinado de Tutankhamon e trazia vários artefatos pertencentes a Akhenaton, Amenhotep III, Kiya e Tiye. E, mais importante: um sarcófago contendo uma múmia, muito mal-preservada, que praticamente se reduziu a uma ossada desarticulados tão logo tiraram suas bandagens. Sir Arthur Weigall e Gaston Maspero, as mais altas autoridades em antiguidades egípcias na época, imediatamente identif**aram como sendo Tiye, mas anos depois, com um exame mais cuidadoso, já tendo sido descoberta a tumba de Tutankhamon, Theodore Davis percebeu a semelhança entre os crânios de KV 55 e de Tut, mostrando que deveriam ser parentes muito próximos, e o exame forense mostrava que se tratava de uma múmia do s**o masculino, de alguém entre 23 e 26 anos de idade, pela dentição e posição da pélvis. Assim mesmo se pensou em Akhenaton, e que o mesmo teria síndrome de Frohlich, e por isso tinha uma maturidade retardada. No entanto, nenhum traço desta doença apareceu em exames mais minuciosos na múmia. Christian Jacq pensou que poderia se tratar de Smenkhare, que teria ocupado um reinado-tampão entre Akhenaton e Tutankhamon.
Mais recentemente, em 2010, o Discovery Channel encomendou ao Journal of the American Medical Association (JAMA), um levantamento do DNA das múmias de 10 membros da família imediata de Tutankhamon para se buscar saber sobre sua árvore genealógica. A conclusão foi a de que KV 55 e Tutankhamon eram pai e filho, e Nicholas Reeves concluiu que KV 55 era Akhenaton, hipótese imediatamente abraçada por Zahi Hawass e publicizada pelo Discovery Channel. KV 55 era geneticamente filho de Amenhotep III e Tiye e Tut era filho dele com KV22 YL (a Jovem Senhora), também geneticamente filha de Amenhotep III e Tiye.
Sem necessariamente contestar as conclusões do JAMA, vários outros egiptólogos contestaram esta hipótese por uma simples razão: KV 55 é demasiado jovem para ser Akhenaton. O juramento solene de Akhenaton de nunca deixar sua querida Akhetaton, declarada nos marcos inaugurais da cidade poderia, ademais, criado um embaraço para retirar sua múmia de lá. O local pode ter sido preservado pelo menos enquanto viviam pessoas em Akhetaton, o que correspondeu até por volta do Ano 25 de Ramsés II (!). Teria sido uma forma de destruir a última memória da dinastia anterior por ocasião da morte da rainha Nefertari, que provavelmente descendia deles, excluindo seus descendentes da sucessão raméssida? Assim Akhetaton, foi subitamente abandonada e, aparentemente, deliberadamente depredada. Akhenaton e Nefertiti podem ter sido simplesmente deixados lá, até terem tido seus tesouros saqueados e suas múmias destruídas. Há relatos de que haveriam múmias parcialmente incineradas na entrada do Uadi Real de Amarna (onde se encontra a Tumba Real), que se pensou que pertenceriam ao período copta, quando a necrópole foi reutilizada como tumba e capela. Mas, quem sabe, não estava naqueles tristes restos mortais hoje desaparecidos o destino final do Casal Solar e sua família?
Referências Bibliográf**as:
ALDRED, Cyril. Akhenaten, King of Egypt. London: Thames and Hudson, 1988
DODSON, Aidan. Amarna Sunset: Nefertiti, Tutankhamun, Ay, Horemheb, and the Egyptian Counter-Reformation. Cairo: American University in Cairo Press, 2009
GABOLDE, Marc. “Under a Deep Blue Starry Sky”. BRAND, Peter J. & COOPER, Louise (eds.). Causing His Name to Live:
Studies in Egyptian Epigraphy and History in Memory of William J. Murnane. Leiden: Koninklijke Brill, 2009.
HAWASS, Z. ET alli. “Ancestry and Pathology in King Tutankhamun's Family”. JAMA. 2010;303(7):638-647
JACQ, Christian. Nefertiti e Akhenaton: o casal solar. São Paulo: Bertrand Brasil, 2002
REEVES, Nicholas. Akhenaten: Egypt's False Prophet. London: Thames & Hudson, 2005
IMAGEM: Crânio da múmia real encontrada na tumba KV 55, oficialmente identif**ada como sendo Akhenaton.
Texto da autoria de Robson Cruz para a EB.