12/12/2024
‼️MANIFESTO PELA RUA - um comunicado à Câmara Municipal de Espinho‼️
A rua, a praça, o bairro: os lugares por onde andamos, crescemos e partilhamos vivências. Lugares que sem a comunidade não existiam, que são feitos por nós e para nós.
Este manifesto, criado face a uma série de murais pintados em Espinho, irá debruçar-se
no vício de um sistema incapaz de fazer uma leitura isenta, profissional e diversificada na seleção de artistas e conteúdos para o que é exposto na cidade. O que acontece quando estes lugares são apropriados, vendidos e despidos do seu lado humano que é tão fulcral para a sua existência?
Recentemente, foi feito um mural onde vemos retratados quatro personagens da Disney: Mickey, Minnie, Pluto e Pateta, num cenário de Natal. Este mural foi pintado pelo artista Bruno Nek, autor de vários murais desenvolvidos no último ano na Avenida 8 (e não só), e todos encomendados pela Câmara Municipal de Espinho (CME).
Enquanto coletivo de artistas, não conseguimos ficar indiferentes ao que este mural representa e reflete acerca do estado da arte e da cultura na nossa cidade. Uma pintura de personagens que não são originais do artista e nada dizem a Espinho. Um mural com uma temática sazonal, com prazo de validade de menos de 30 dias, tal como o papel de embrulho que acaba no lixo. Uma obra impessoal, que quase passaria por um cartaz publicitário, numa zona da cidade tão frequentada.
A arte urbana é uma forma de educação visual.
O encontro com o objeto artístico num lugar acessível a todos estimula o interesse pela arte
e é decisivo na literacia artística da população. É urgente a autarquia promover um diálogo construtivo com a comunidade artística, de forma a sensibilizar quem toma estas decisões. Só assim caminharemos para uma cidade valorizada e democrática.
O Coletivo Salitre, nos últimos dois anos, teve a oportunidade de conhecer e trabalhar com dezenas de artistas visuais, cada um com a sua linguagem, temáticas e vidas distintas, e tornou-se evidente a precariedade enfrentada pela maioria devido à falta de oportunidades de emprego e desvalorização do seu trabalho. Assistimos constantemente a artistas a desistir dos seus projetos e carreiras, porque quem elegemos e financiamos recusa-se a investir de volta na população.
Testemunhamos este ciclo tão presente nas instituições municipais, que falham no investimento da diversidade artística e privilegiam o conforto de contratar quem já conhecem. O Coletivo Salitre surgiu exatamente dessa necessidade de luta, para demonstrar que há bons motivos para sermos vistos e ouvidos, numa cidade que nos ignora e tem uma clara preferência por soluções preguiçosas, fáceis e repetitivas.
Gostaríamos de ter respostas da CME às seguintes questões:
O que motivou, do ponto de vista cultural, artístico e urbanístico, o investimento no mural natalício?
Os direitos de autor para utilização das personagens foram tidos em conta ou, tal como aconteceu com a artista local Mariana Crisóstomo, optou-se pelo plágio?
Por que razão continua a ser convocado sempre o mesmo artista para a produção dos diversos murais, com dezenas de artistas locais igualmente capazes?
Que conhecimentos especializados em arte urbana, design e/ou ilustração permitiram aos responsáveis autárquicos validar estas obras?
Porque razão a comunidade artística não foi envolvida neste processo? Houve falta de maturidade política da CME?
No nosso entender, a CME preferiu a entropia de uma só visão, sem olhar para o futuro, nem para a comunidade. Uma decisão unilateral, sem dó por artistas e agentes da cultura que investem o seu tempo a estudar o que é uma ferramenta ancestral da humanidade - a Arte.
O que concluímos é que só se valorizou a arte da inércia, da preguiça, do facilitismo e do amadorismo.
Queremos reconhecimento para todos os artistas locais, tão diversos e capazes, mas que sofrem com a monopolização destas oportunidades de trabalho, fruto da gritante falta de conhecimento, cultura, visão e responsabilidade por parte de quem tem poder. Queremos enriquecer a cidade artisticamente, culturalmente, pedagogicamente e emocionalmente. Queremos Espinho com mais alma e menos produto. Queremos respeito.
Merecemos respeito.
Município de Espinho