PVZ SOUL sweatshirt “SUMMER NEVER ENDS” disponível dia 10 de Fevereiro ⛵️🍦
#PvzSoul
Sou Caxineiro mas também sou Poveiro. Sou de uma terra de homens com calos nas mãos, cheiro a peixe na roupa, ondas do mar em forma de rugas. Por aqui ouço e falo um sotaque que não existe em parte alguma. Gosto de comer sardinhas com as mãos e de ver as peixeiras que vendem peixe na rua. Parecem mais seguras do que toda a gente na relação com os outros. Têm uns olhos emotivos e têm ar de que sabem o que estão a fazer. Essas mulheres bonitas de aventais aos quadrados têm uma alegria beata e devota como se estivessem a fazer uma catarse do sofrimento dos próprios maridos. E é isso que o peixe que comemos representa: sofrimento, horas insanas de labuta, espírito guerreiro e sustento.
Gosto também dos homens. Vejo-os principalmente nos cafés. São distantes como se soubessem os segredos das coisas mas discutem sobre nada e dissertam sobre coisas prosaicas: o futebol, o mar, o temporal e as mulheres de aventais axadrezados e coloridos e de como estas lhes despertam um fulgor nos olhos.
Bebem muito e comem muito, principalmente nas merendas. Aos sábados à tarde, os cafés típicos da zona enchem-se de pescadores de cara ossuda e rosada que ateimam uns com os outros sobre coisas do futebol. Como um jogador que marcou um golo em determinado jogo no ano de mil novecentos e trocó passo. Comem petiscos e brindam ao vinho da casa. Jogam cartas, falam alto e fumam desalmadamente.
O resto do mundo é-lhes alheio, não por desconhecimento, mas por administração de simplicidade. O mundo que conhecem é para lá das ondas e sua morada íntima é o mar alto digam o que disserem as certidões, os cartões e os documentos. Invejo-os, de certa forma. Invejo-os por essa relação próxima com o mar que só tenho o prazer de experienciar nas tardes tórridas de verão.
Todos os meus verões adolescentes foram na Póvoa, apesar de eu sempre ter morado nas Caxinas. Atrás do guarda sol e mais tarde na praia da Salgueira. Às duas e meia na lapa, sempre. A pé ou d