22/09/2024
O Zola Ramos é alguém que eu aprecio e respeito muito. P’ra mim faz parte daquilo que considero a trindade da nova geração dos poetas-declamadores, junto com Ângelo Reis aka Poeta Dos Pés Descalços e Fridolim Kamolakamwe. Chamo nova geração porque tem uma anterior com os Lopitos e Ngonguitas.
Foi júri da sétima edição do concurso de poesia Orgasmo Literário. Foi convidado no nosso programa radiofônico Revolução Literária e era suposto estar presente no primeiro concerto poético-musical Lés À Lés, do Esmeraldo Baptista, pelo menos estendi o convite. (O próximo Lés A Lés do Esmeraldo acontece já em Outubro na Epandy Tv (passa a publicidade).
Sempre o tratei com estima e admiração, inclusive ajudei na divulgação do seu audiopoema promocional do Ep, “É a fome”, produzido pelo Samuel Beats, com várias partilhas e vídeos com os meus filhos. Trago à mesa essas situações todas pra deixar claro que o que me move a fazer essa crítica não é a inveja. Porque agora está na moda quem critica ser rotulado como invejoso.
Vamos à matéria de hoje…
Por: Yadhiro Barroso, ghostwriter e produtor de eventos culturais.
A poesia carece de valorização e, infelizmente, o governo, através do Ministério e da Direção Nacional da Cultura já demonstraram que não têm políticas voltadas à esta arte, daí à necessidade de sermos nós a fazer por nós e está de parabéns o Zola Ramos por criar mais um espaço, uma casa para a poesia e para os poetas.
Eu não sou ninguém para tornar algo incorrecto pelo simples facto de não concordar, porém, não posso deixar de emitir a minha opinião sobre algo só porque não tenho o poder de mudá-lo.
O talk-show tem como tema: Poesia Na Casa, mas vejo na casa além de poesia outros hóspedes, como mostram os cartazes. Particularmente acho um desrespeito para com os poetas. É como se já não tivesse poetas e está-s’A recorrer à artistas de outras áreas. Alguém pode de repente dizer: “ahh o músico é um poeta”, como disse o meu amigo Tiago Costa, mas não. Quem entende minimamente de música e de poesia sabe disso. Nem todo músico é um poeta.
Compreendo que a situação actual do país está difícil, mas os homens fazem-se de escolhas. Poesia não é uma arte fácil. Não é uma arte com fazedores bons aos montes e entendo que às vezes surge o conflito de agendas com certos convidados, mas esses conflitos, a meu ver, não se podem resolver chamando outros actores do mosaico artístico que em nada têm a ver com a poesia.
Considere a criação de novas rubricas, muda-se a periodicidade se for necessário, mas devemos nos manter fiéis ao tema do programa, que neste caso é Poesia Na Casa.
O Zola Ramos apesar de ser uma figura incontornável na poesia angolana, ele não é obrigado a trabalhar só com poesia. Pode estender seu talk-show pras demais facetas da arte, contanto que altere o nome do programa porque, pelo menos pra mim (vou sempre particularizar a opinião) não faz nenhum sentido ter naquela cadeira pessoas que não trabalham com a poesia ou para a poesia.
Eu, Yadhiro, tenho agora em curso um projecto de batalhas de Rap (Rompimento NOTA 10) que vai estrear agora em Outubro27, na Laasp, já produzi concertos de música, de teatro e sigo fazendo eventos de poesia, mas tudo separadamente. Podemos fazer tudo que quisermos, somos livres, mas há que se separar o trigo do joio. Ou é talk-show de poesia ou não é, e é um talk-show de artes diversas, à semelhança de um Fly Podcast e outros programas do gênero.
Obs.: A poesia infelizmente ainda não é uma arte monetizada. Se a ideia é fazer negócio, há muitas outras formas de fazer negócio. Business? Ok, invista no business, mas colocando a poesia fora dessa prostituição ideológica. As palavras “lucro” e “poesia” não rimam, sei que o mano sabe disso melhor do que eu.