Quando se fala em morangos, uma série de imagens nos vêm à mente, a relação da cor cárnea, os ares de sedução e a lembrança de receitas deliciosas são, geralmente, aguçados, contudo, antes de abordar os campos diversos, iremos, contar um pouco da história do morango em si.
Proveniente da expressão latina Moru, que remete também à amora, ou mais precisamente a palavra Moranicu, o termo morango é uma derivação, sendo, assim, também a origem da expressões francesas e espanholas, alusivas ao morango, derivadas do mesmo idioma. Quanto à palavra espanhola fresa (equivalente a morango), esta terá origem no latim fraga por via do francês fraise. Deste modo, quer morango quer fresa têm origem latina. O morango é o fruto de uma planta da família Rosaceae, a mesma das rosas, maçãs, pêras e cerejas. É uma planta nativa das terras temperadas da Europa, mas que hoje em dia é cultivada com sucesso em grande parte do mundo. Na era romana, era valorizado por suas propriedades terapêuticas e praticamente servia para todos os tipos de doenças. Começaram a ser cultivados no século XIII.
Antes ainda de qualquer tipo de confirmação de cultivo, os morangos surgem, citados, na mitologia nórdica, de modo que os morangos foram originalmente associados à deusa nórdica Friga ou Freya. E até a difusão do cristianismo essa associação era normal à deusa. Freya aparentemente tinha um pouco de ciúmes para com os morangos, tanto que ela exigia que todos os morangos fossem entregues para ela. E se qualquer pessoa que se aproximasse do Céu com a boca manchada de morango, ela lançaria ao tormento eterno por invasão de seus campos. Outra curiosidade desse mito é que as crianças subiam disfarçadas de morangos ao céu, daí o povo da terra nunca sabia quando eles estavam cometendo canibalismo por comê-los, então a maneira mais segura era evitar o consumo de morangos. E, como todas as coisas consideradas pagãs os morangos também foram absorvidos pelos mitos cristãos como um dos frutos da Virgem Maria.
Remetendo a uma das personagens mais icônicas e controversas da história, surge o cultivo do morango na França, no período do “Rei Sol”, o mesmo abordado no filme Três Mosqueteiros. O jardineiro de Luis XIV cultivava morangos em Versalhes. Desta forma, a fruta polpuda e saborosa passou a ser valorizada à sobremaneira, pelos nobres, e também plebeus, que sonhavam, algum dia, ter cardápio semelhante a Luis XIV.
Seu cultivo passou a ser popular no século XVIII e mais de 600 espécies foram desenvolvidas. Curiosamente, a parte carnosa do morango, a que comemos, não é o fruto mas o resultado do inchaço dos talos da planta. O fruto verdadeiro é a semente amarela que f**a incrustada na superfície da parte carnosa.
Apesar de terem começado a ser cultivados pelos romanos em 200 a.C., os morangos eram raros até o fim do século XVIII, pois sua produção era difícil. O consumo popularizou-se só com o surgimento de uma nova espécie, de fácil reprodução e cultivo, na verdade um híbrido: os morangos consumidos atualmente (Fragaria ananassa) surgiram de um cruzamento casual entre duas espécies americanas levadas à região de Brest, na França. Alan Davidson, autor de The Oxford Companion to Food (Oxford University Press, Inglaterra, 1999), informa que essas variedades foram o morango chileno (Chiloensis), nativo do Pacífico no norte e sul da América, e o Virginia (Fragaria virginiana), nativo do leste dos Estados Unidos. A partir do aprimoramento das técnicas de cultivo surgiram inúmeras espécies. Porém, o morango tem uma particularidade. Tecnicamente ele é uma falsa fruta. Botanicamente, aquilo que chamamos de morango não é a fruta, e sim um receptáculo dos frutos. Aqueles grãozinhos minúsculos que revestem sua superfície é que são a verdadeira fruta do gênero Fragaria. No ponto de vista gastronómico, isso não faz a menor diferença. Com tantas qualidades, pouco importa qual é a parte do morango que é denominada como fruta. O que interessa é que, o todo, é chamativo e salutar.
O morango, que tem o formato de um coração, muito bem poderia ter sido nominado, nas histórias orais, como o fruto do pecado original, mas, isso cabe à maçã (ainda que não esteja escrito qual era o fruto de Adão e Eva na Bíblia). Mas, menos mal, desta história, como fruto de origem do pecado, o morango não sai manchado.
A maioria das simbologias associadas à essa fruta são positivas. Assim, na Roma Antiga, o morango era o símbolo de Vênus, equivalente à Afrodite, a deusa do panteão grego, do amor, da beleza e da sensualidade.
Devido à sua cor vermelha, sabor intenso e formato de coração, o morango simboliza o amor, o erotismo e a sensualidade. Não obstante, para os ciganos, o morango é utilizado em poções e chás para trazer a energia necessária bem como aproximar o ser amado. Por esse motivo, acreditam que se duas pessoas dividem dois morangos estão destinadas a se apaixonar.
Na cultura indígena da América do Norte, os Ojíbuas (em inglês Ojibwas) acreditavam que quando uma pessoa morria e adentrava ao mundo dos mortos, sua alma vagava até chegar num imenso morango e, no momento que o provasse, seu espírito se desprendia totalmente do mundo dos vivos. Do contrário, se recusasse a comê-lo, como castigo, regressaria ao mundo dos vivos. Para eles, essa fruta simbolizava a paz de espírito e a boa estação.
Durante o século XV, de forma que as folhas dos morangos estavam associadas à Santíssima Trindade, os monges da Europa Ocidental, em seus manuscritos com representações da Virgem Maria, incluíam com frequência os morangos selvagens nas próprias ilustrações.
Muitas culturas acreditam que os morangos simbolizam a perfeição de espírito, a paz e o ideal feminino. Outras simbologias atribuídas à fruta são: a tranquilidade de um lar, um sonho realizado ou uma vida feliz.
No cinema, com abordagens a Morangos Silvestres (Bergmann, 1957), quanto no passar das décadas, até a abordagem política de Morango e Chocolate (Taba, 1994), a fruta símbolo de Bom Princípio sempre foi marcante na sétima arte.
No universo infantil, a personagem Moranguinho, é tema de incontáveis festas de criança, fazendo parte do imaginário da primeira idade.
Assim, na literatura, em especial aquela que remonta à gastronomia, o Morango é uma das personagens mais citadas quando as receitas são de saborosos doces, transcendendo continentes e estilos de vida.
A localidade de Bom Princípio ainda pertencia a São Sebastião do Caí, e o Brasil era administrado sob o regime militar, quando surgiram as primeiras lavouras de moranguinhos com fins comerciais. A primeira propriedade a investir na produção foi de Alfeu Groth, da localidade de Mambuí. Até então o morango era cultivado apenas nos jardins das residências, para consumo próprio e sem emprego de técnicas apuradas.
No final dos anos 60 o setor primário do município baseava-se fundamentalmente no cultivo do milho, soja, alfafa, criação de suínos e gado leiteiro. A baixa produtividade e os preços pouco compensadores obtidos pelos produtos, motivou os agricultores em investir noutras atividades, dentre elas o cultivo de hortigranjeiros. Pioneiro na produção de morangos em Bom Princípio, Alfeu Groth trouxe as primeiras mudas da espécie Guayba, em 1967.
Na época a maior dificuldade era encontrar informações técnicas sobre a cultura e mudas. Distante da Secretaria da Agricultura e a inexistência de um escritório da Emater forçaram o produtor a buscar informações diretamente com produtores de outras cidades da região. As primeiras orientações foram obtidas junto as propriedades de Celso Bach e Sinésio Dulius, da localidade de Escadinhas, Feliz. A curiosidade de conhecer a nova cultura e a vontade de inovar foram as motivações que levaram Alfeu a superar as dificuldades iniciais.
As primeiras 200 mudas adquiridas pelo produtor bom-principiense tiveram um custo de 25 Cruzeiros por muda. Para ter-se uma ideia do alto valor pago, basta comparar com o preço do litro da gasolina, que naquele ano custava 1,30 cruzeiros, ou o quilo de morango que era vendido a 3,50 Cruzeiros. Estas primeiras 200 mudas foram adquiridas com o objetivo da multiplicação, o que resultou em 15 mil mudas em 1968.
Além das 15 mil mudas produzidas, outras 85 mil foram adquiridas junto a Granja de Morangos Pasa, em Farroupilha. Das 100 mil mudas plantadas, o produtor obteve uma produção de 103 mil quilos. No final dos anos 60, a cultura do morango já se tornara uma cultura comum a várias famílias, que produziam em parceria com Alfeu Groth, que fornecia as mudas e insumos necessários. O relato histórico feito anteriormente, lembrava de Edgar Schuster como mais antigo produtor de morangos de Bom Princípio. E assim o era em 2017, sendo o mais velho entre os pioneiros ainda vivo. Reforça-se que a produção começou pelas mãos de Alfeu Groth, em 1967, com a aquisição das primeiras mudas. Ele iniciou o plantio, de maneira modesta, tendo, logo após, a parceria de outros produtores como Schuster e Lauro Martini, ambos de Bela Vista. Contudo, o pioneirismo, citado nos materiais mais antigos encontrados no histórico da Festa do Moranguinho, remetem à Groth, contudo, todos os aqui citados e outros mais tiveram importância inestimável.
Crescimento Gradativo
Foram necessários 20 anos para que Bom Princípio fosse reconhecida como a Terra do Moranguinho. Isto aconteceu a partir das duas primeiras edições da Festa do Moranguinho, nos anos de 1986 e 1988. Antes disso os agricultores ligados à produção de morangos tiveram a missão de conquistar mercado para a fruta. Inicialmente a comercialização restringia-se ao mercado local.
O aumento da produção tornou necessária a busca de novos mercados consumidores. Foi quando iniciou a comercialização para a Ceasa, onde o agricultor Lauro Martini, de Bela Vista foi pioneiro. A comercialização era feita em caixas de madeira com capacidade para sete quilos, o que causava o esmagamento da fruta. Daí, a inovação com a introdução da embalagem de papelão, com capacidade para um quilo. Nos últimos anos parte da produção está sendo destinada aos demais Estados das regiões Sul e Sudeste.
Conforme avançaram as técnicas de produção, gradativamente também aumentou a produção de morangos. Até 1994 o número manteve-se estável, com uma área de 18 hectares. A partir disto, anualmente houve aumento na produção, especialmente em 1996, quando a área cultivada passou de 18 para 31 hectares. Neste ano, no entanto, algumas pragas atacaram a lavoura, desmotivando os produtores. No ano seguinte o município sediou o 1º Simpósio Estadual sobre a produção de mudas de morango. “Foi um marco definitivo para qualif**ar as mudas do Estado”, reconhece o então técnico da Emater, Leneu Blauth. “Depois do problema de 1996, neste ano atingimos novamente a mesma área cultivada com moranguinhos”, destaca Blauth.
Com o passar dos anos e fertilidade do solo apontando para a viabilidade de produção de morangos a tentadora fruta passou a ter mais espaço. Até ali era apenas mais uma cultura domiciliar do que uma produção em larga escala. Tudo mudou muito rapidamente.
A segunda edição da festa já teve por palco o parque municipal e foi de uma amplitude muito maior. A evolução foi sucessiva, de maneira que a festa alcançou um público pagante superior a 100 mil em vários momentos da história. A festa passou a ser considerada como Festa Nacional do Moranguinho, tendo o seu nome consagrado dentro, e até mesmo, fora do Rio Grande do Sul.
Contar a história da festa nacional do Moranguinho requer um regresso ao tempo e uma conversa com o seu primeiro presidente.
Gilberto Rauber, mais conhecido como Péo, é um felizense que trabalhava em Bom Princípio e que, num dia qualquer de muito trabalho, em 1986, ouviu do prefeito José Hilário Junges um pedido, um tanto, inusitado. “Escuta Rauber, eu estive em Porto Alegre com o governador Jair Soares e ele me disse que nós deveríamos fazer uma festa pra mostrar Bom Princípio. E como produzimos morangos, vamos fazer aqui a Festa do Moranguinho”, recorda o ex-prefeito Junges. Para o completo susto de Rauber, que sabia que Feliz produzia mais morangos do que Bom Princípio, o prefeito emendou: “Tu vais ser o presidente da festa e, mais, ela tem que dar lucro”.
Frente aos desafios propostos pelo prefeito, obter lucro da festa, seria, o menor dos problemas para Rauber. Como ele, filho de Feliz, iria presidir a Festa do Moranguinho em Bom Princípio? Gilberto foi profissional, aceitou a proposição de Junges e assim, iniciou-se a história da Festa do Moranguinho, em outubro de 1986, quando ainda não se denominava a mesma como evento de cunho nacional. Mas, ter uma festa exigia, para facilitar a divulgação, ter uma rainha. Tudo foi realizado meio que às pressas, mas, a escolha de apenas uma representante consagrou a beleza e a sabedoria de Marisa Kaspary.
Quando terminou a primeira festa, com sucesso considerável, e sabendo que outros eventos feito este poderiam surgir, foi feito o registro do nome, já como Festa Nacional do Moranguinho.
Sucederam-se outras festas, a cada dois anos uma nova corte era eleita. Isso até 1994, quando o reinado foi mais curto, pois era necessário mudar a data da Festa Nacional do Moranguinho. Não era conveniente fazer a festa no ano das eleições municipais, pois as rivalidades poderiam prejudicar o evento em si. A Festa do Moranguinho era maior do que qualquer rusga político-partidária.
Reinaram nesta que é uma das maiores festas do Sul do Brasil. Beleza e simpatia jamais lhes faltaram. Cada qual, à sua época, fez o melhor que pode por Bom Princípio, sendo, assim, eternas soberanas.
1ª Festa do Moranguinho - 1986
Rainha – Marisa Kaspary
Presidente: Gilberto Rauber
2ª Festa Nacional do Moranguinho – 1988
Rainha – Cláudia Raquel Müller
Princesas – Jaqueline Schmitz e Márcia Steffen Torres
Presidente: José Bertoldo Ledur
3ª Festa Nacional do Moranguinho – 1990
Rainha – Silvana Amarante de Moraes
Princesas – Adriane Maria Heck e Suzana Nienow
Presidente: Gilberto Rauber
4ª Festa Nacional do Moranguinho – 1992
Rainha – Cristina Ledur
Princesas – Fabiana Schmitz e Rosane Lunkes
Presidente: César Luiz Baumgratz
5ª Festa Nacional do Moranguinho – 1994
Rainha – Simone Catarina Ledur
Princesas – Paula Hoff e Vivian Wagner
Presidente: Aloísio Roque Schmitz
6ª Festa Nacional do Moranguinho – 1995
Rainha – Cristiane Martini
Princesas – Tatiana Tavares e Daliane Juchem
Presidente: Leneu Blauth
7ª Festa Nacional do Moranguinho – 1997
Rainha – Letícia Chassot
Princesas – Magali Birck e Simone Ströher
Presidente: Jairo Ledur
8ª Festa Nacional do Moranguinho – 1999
Rainha – Joicele Schneider
Princesas – Lilian Juchem e Dilene Rodrigues da Silva
Presidente: Edgar Dario Müller
9ª Festa Nacional do Moranguinho – 2001
Rainha – Paula Viecelli
Princesas – Izabeli Ledur e Tatiana Scherer
Presidente: Elton Sebastiany
10ª Festa Nacional do Moranguinho – 2003
Rainha – Jaqueline Marx
Princesas – Maísa Selbach e Scheila Bach
Presidente: Elton Sebastiany
11ª Festa Nacional do Moranguinho – 2005
Rainha – Vanira Heck
Princesas – Juliana Führ e Stefane Müller
Presidente: João Carlos Ledur
12ª Festa Nacional do Moranguinho – 2007
Rainha – Tatiana Ledur
Princesas – Janice Steffen e Patrícia Steffen
Presidente: César Luiz Baumgratz
13ª Festa Nacional do Moranguinho – 2009
Rainha – Patrícia Klering
Princesas – Daroixa Luft e Jaqueline Ledur
Presidente: Paulo Ricardo Seibel
14ª Festa Nacional do Moranguinho – 2011
Rainha – Susan Laís Luft
Princesas – Adriana Rambo e Amanda Ledur
Presidente: João Guilherme Weschenfelder
15ª Festa Nacional do Moranguinho – 2013
Rainha – Daniela Brustolin
Princesas – Ana Paula Schmitz e Ana Deise Seidl
Presidente: Rodrigo Ledur
16ª Festa Nacional do Moranguinho – 2015
Rainha – Morgana Machado
Princesas – Júlia Elisabeth Marx e Andressa Steffens
Presidente: Gerhard Ledur
17ª Festa Nacional do Moranguinho – 2017
Rainha – Thaís Klering
Princesas – Síntia Schweikart e Sabrina Lermen
Presidente: Cesar Luiz Baumgratz
Se, como anteriormente, dizíamos que a primeira festa do Moranguinho foi pequena, realizada diante da prefeitura, as demais tiveram, cada qual, a sua importância no desenvolvimento da imagem e do perpetuar de Bom Princípio no calendário sul brasileiro de eventos culturais.
Recordam os que participaram da primeira festa o, quase, amadorismo de então. O parque de diversões, com um carrinho choque, chapéu mexicano e uma roda gigante, ainda assim, era o deleite das crianças, que, até então, mal conheciam os brinquedos.
O parque era cercado, f**ando o guichê de acesso, junto à rotatória, hoje, ao lado da Brigada Militar. Poucos eram os estandes, mas, ao findar do evento, com olhar visionário, fez o registro oficial do evento como Festa Nacional do Moranguinho. O show de Dante Ramon Ledesma e o discurso do prefeito da época, Hilário Junges, f**aram na memória do povo, estando, Bom Princípio, marcado na história regional pelo seu empreendedorismo. O palco f**ava aos fundos da prefeitura, próximo de onde, hoje, está o clube de mães.
A segunda festa, em 1988, passou para o parque municipal. O Ginásio de Esportes havia sido iniciado, com a estrutura, bastante, rústica, não havendo, nem mesmo, reboco nas paredes. Mas, a mudança para o parque deu, uma estrutura maior para o evento, permitindo ir além, com alguns shows. A exposição de morangos, então organizada pela secretaria da agricultura, ganhou mais produtores, orgulhosos mostrando as suas frutas.
A terceira festa, com um lonão de circo montado em meio ao parque, teve aumento considerável nos shows e também na presença de público. O show da Bandalheira, no auge do rock gaúcho, trouxe uma imensidão de pessoas ao parque, mostrando que era possível ir muito além.
Em 1992, com o Ginásio de Esportes pronto, inaugurado, a estrutura da festa era muito melhor. A exposição de animais era uma atração a mais, mostrando que Bom Princípio tinha uma excelente produção primária, afinal, morangos, ainda não eram o bastante para ser a amostragem única.
Em 1994 o parque foi tomado de pessoas de tal maneira que não havia mais estrutura o suficiente para receber tamanho público, de modo que uma grande mudança precisava ser realizada. Isso viria a acontecer depois. O grande show do Nenhum de Nós, então ícone nacional com sucessos inclusive nas novelas da Globo, deram uma vitrine muito grande. E por falar em tevê, naquele momento, Maria do Carmo, apresentadora do Jornal do Almoço, era atração da festa, afinal, uma transmissão ao vivo, de uma comunidade tão pequena quanto Bom Princípio era, praticamente, inimaginável. Mas, Bom Princípio, inovou e conquistou.
Um ano depois voltaria a acontecer a festa. A mudança do calendário, sendo agora realizada em ano ímpar, tinha relação com as eleições municipais. Não ter festa no ano da eleição seria benéfico (e foi) pois evitava afrontas políticas e rusgas locais. A festa para todos. Tendo como presidente Aloísio Roque Schmitz, que um dia fora candidato a prefeito pelo PMDB, trabalhando em conjunto com o PFL, partido do então prefeito César Baumgratz, foi mudada a concepção da festa. Ela seria pluripartidária, indo além das diferenças. E, assim foi. O parque, antes muito pequeno, teve a mudança do palco. Deixou de ser em um lonão, passando para a parte inferior da área, onde hoje está o parque de máquinas. Era anunciado, em 1995, um megashow nacional. O maior que havia naqueles tempos no Brasil: Roupa Nova. E a banda veio com todos os seus sucessos. O parque lotou, superlotou, abarrotou... enfim, o estacionamento de veículos ia até a frente do antigo Salão Bela Vista, tamanho era o público presente. Foi a festa de 1995, a maior da primeira fase do evento. A grande guinada, com a valorização dos produtores e a criação de novos pratos à base de morango. Tudo mudara a partir dali.
Em 1997, a primeira festa sob a gestão de Jacob Nestor Seibel, era lançada uma nova concepção da festa. Muito mais cultural no âmbito teatral e literário. Foi a primeira vez que a festa teve três finais de semana. A previsão era dois finais, mas choveu tanto que a organização decidiu fazer mais um sábado e domingo de festa. Foi a festa da chuva, em outubro de 1997. José Augusto, Os Serranos e Kleiton e Kledir foram algumas das atrações musicais da festa. No Espaço do Livro, então sob gestão da Gráf**a Dominó, eram lançados livros, tanto de escritores locais, quanto de renomados. “Os Pecados da Língua” de Paulo Flávio Ledur & Sampaulo, viraram marca da festa, ano após ano. O chargista da Zero Hora, Sampaulo, ilustrava as imagens do evento e, sem querer, em tom de brincadeira, em entrevista para a tevê, apresentava ao público uma novidade: o chopp de morango. Nada mais era do que um copo de cerveja com dois morangos boiando dentro. A brincadeira dele, viria a ser realidade tempos depois, com a criação da bebida, apresentada, em 2005.
Em 1999, depois dos transtornos da chuva na edição anterior era feita uma mudança considerável na história das festas. Ela deixou de ser realizada em outubro, sendo antecipada para setembro. Em teoria choveria menos. E naquele ano a previsão obedeceu, em parte. Realmente, choveu menos, se comparado à festa anterior.
Os anos 2000 iniciavam sem que se soubesse que a Festa Nacional do Moranguinho poderia ser, realmente, tão grande quanto é hoje. Vieram grandes shows sertanejos, então estupendo sucesso nacional, como Rick & Renner, Cesar Menotti & Fabiano, Victor & Léo, Zezé de Camargo e Luciano. Enfim, a música era a tônica cultural do evento, sempre, com o morango tendo o seu devido espaço, inclusive com a criação do Mundo do Morango, um local, apropriado para degustar o que havia de melhor e novo no universo peculiar da fruta símbolo.
Uma das curiosidades nas festas de 2005 e 2007, foi ver como rainhas, duas moças – Vanira e Tatiana – que foram moranguetes, nas primeiras edições do evento. O Morangão, mascote, símbolo da festa, caminhava pelo parque e, depois, ganhou uma companheira.
Em 2009, a festa passava a ter ares internacionais. E não foi através dos shows. Naquele ano foi assinado o protocolo de geminação entre Bom Princípio e Klüsserath, f**ando, assim, atreladas as cidades de maneira fraternal. Da mesma forma, Bom Princípio postulava lugar no Guiness dos Records, com a maior torta de morango já feita. Tinha dois metros de altura e 2,2 mil quilos.
E por falar em Morangão, o símbolo de concreto, que hoje identif**a a cidade e a festa, foi resultado de outra festa. Erguido, com mais de 13 metros de altura, o pórtico do parque municipal é resultado da festa de 2001, sendo o retorno positivo, a partir daquele momento, uma quase disputa entre os organizadores. A festa do Moranguinho, como dizia Hilário Junges, na primeira edição, teria que dar lucro. E, com uma gestão séria e focada, nos anos 2000, os resultados da festa, financeiramente e como divulgação foram crescendo, sendo estupendos. Zezé de Camargo, em 2011, naquele momento foi o público maior de uma festa na região, não sendo pensável tanta gente em um só momento da festa. Cerca de 25 mil pessoas estavam dentro do parque no show dos grandes artistas.
Em 2015, com contornos de megaevento, o palco foi o maior já montado no interior do parque municipal, recebendo o show, de Fernando e Sorocaba, então, icônicos no mundo da música sertaneja. A festa teve um público muito grande, com a curiosidade de, pela primeira vez, ter como presidente um jovem, filho de um ex-presidente. O legado da festa era passado de geração em geração.
Veio então aquela chamada de festa da ousadia. A Festa Nacional do Moranguinho promoveu uma mudança sem par na história. Se em 1995, o palco foi para outro ponto do parque, em 2013 e 2015 era um gigantesco estrutural como nunca antes visto, em 2017, o parque era ampliado, com a instalação do palco à frente do Morangão. E no interior, ganhava-se um excelente espaço, para o público e também o Palco Cultural. Artistas alemães, trouxeram a internacionalização definitiva da festa. O desfile temático ganhou ainda mais afirmação, mas, a mudança de local do palco, deu uma grandiosidade ainda maior à festa. Algo que Bom Princípio e a região nunca haviam visto. A Festa do Moranguinho é marca registrada de sucesso. Sendo talvez, mais conhecida que a cidade, afinal, Bom Princípio é a Terra do Moranguinho.