30/04/2024
Série de autorretratos: Arquitetura do Desaparecimento
A Série Arquitetura do desaparecimento nasce a partir de reflexões sobre o corpo negro e sua inserção no mundo branco. O quanto esse corpo é alvo de violação, deslegitimação, selvageria, marginalização e descaracterização. Vivemos ainda, mesmo depois do fim da escravidão, em uma sociedade, onde ser negro, transitar enquanto corpo negro, é muito perigoso. O racismo nos persegue, dia após dia, velado ou explícito não importa. Ele nos caça feito presas. O Brasil passou por vários momentos históricos e ainda passa, onde ser negro, não pode, ou pode, desde que você alise o cabelo, faça a barba, tire as tranças, ande sempre arrumado e com documentos sempre a mão. Seja pacifico e sempre agradeça dizendo sim senhor ou sim senhora. Não jogue capoeira, não toque tambor, não se orgulhe do seu cabelo, muito menos da sua pele. Fomos criados a partir de uma lógica eurocêntrica, onde o preto só serve, quando serve. É complicado falar sobre isso a partir de um trabalho fotográfico, sou preto afinal. Essa Série de autorretratos com uma pitada de abstracionismo e de cunho minimalista, nasce a partir de observações empíricas sobre como esse corpo é tratado no mundo branco. Não apareço, não me reconheço, não me entendo, não me aceito, pelo menos desse jeito que querem que eu seja, não sobrevivo. Coberto por tecidos brancos, dentro de um mundo de igual cor, sinto dores intensas, me contorço, cresço, diminuo, tento correr, me paralisam, tento entender mas me confundem, crio portais para buscar saídas inexistentes, amigos ocultos são vários, mundos imaginários, tento sobreviver com a esperança de um dia ser, apenas ser. Sei que sozinho não dá, então eu choro escondido por baixo dos panos que me jogam, para que eu possa circular, sem rosto, sem braços, sem pernas, sem cabelos, sem orelhas, sem mãos, sem deus, sem cor... sem nada. Me tiram tudo a força, às vezes, sou confundido com um deles, mas só por um instante, quando sou aceito, por um instante. Mas, na maioria das vezes caminho só, ou pelo menos tento caminhar. Continua...