07/05/2023
A verdadeira história da Praia do Laranjal
Parte XVII
O caminho à praia e a criação dos balneários
Muito eu já escrevi sobre a antiga Sesmaria que pertenceu a Thomaz Luiz Osório, o ´´Coronel de Dragões´´, desde que a propriedade lhe pertenceu até chegar às mãos da Família Assumpção, em seus diversos segmentos.
Pois o ´´Laranjal´´ possui tal origem em composição, ou seja, as suas terras dividem-se entre a mesma Família que o adquiriu, herdou-lhe, enfim. Por um lado, o charqueador Joaquim José de Assumpção, o Barão de Jarau, que era proprietário da Charqueada da Costa, matrimoniado com Cândida Clara Simões Lopes de Assumpção, a Baronesa de Jarau. A descendência direta de Joaquim José de Assumpção é proveniente de terras portuguesas; em específico, Lisboa. Há também aqueles que afirmam, e, por conseguinte, escrevem, que a Família Assumpção viera de duas famosas ilhas de Portugal - dos Açores e da Madeira. Há alguns esporádicos estudos sobre Faial.
As terras do Barão de Jarau se estendiam desde às margens do Arroio Pelotas, onde por muitos anos funcionou a sua exitosa charqueada, estas seguindo pelas encostas deste mesmo rio, até chegar a Galateia. Depois do falecimento dos Barões, logicamente, o estabelecimento fora passado aos seus legítimos herdeiros. É bom recordar que a Sesmaria de Thomaz Luiz Osório recebera o nome de Fazenda de Nossa Senhora das Pilotas, da qual surgiu Patrimônio, Graça, Laranjal etc. Mais tarde, quando da divisão da Sesmaria, então, uma parte desta recebeu o nome de ´´Estância do Laranjal´´. Recapitulemos o que se segue: uma vez, Thomaz Luiz Osório havendo sido levado à forca, em Portugal, depois de preso no Forte de Santa Tereza, quase na fronteira do Uruguai com o Brasil, sua esposa vendeu a Sesmaria de porteiras fechadas a Manoel Bento da Rocha. Este, depois de falecido, deixou aquelas terras à sua mulher, dona Isabel Francisca da Silveira. Com a morte de dona Isabel Francisca, a imensa propriedade foi herdada pelas suas sobrinhas-netas, pois o casal não tivera filhos. A família Silveira - tal e qual a Família Assumpção - era oriunda das ilhas dos Açores, do Faial e da Madeira.
Para não repetir-me, porque o assunto já foi abordado em artigos anteriores a este, a ´´Estância do Laranjal´´, sob os cuidados das sobrinhas-netas de dona Isabel Francisca da Silveira, veio parar nas mãos do médico Antônio Augusto de Assumpção. Embora a própria Família Assumpção, por muitos e muitos anos, quem sabe por bons escrúpulos, isto é, uma consciência dotada de princípios morais, ou mesmo atingida por um certo estado de hesitação ou inquietação espiritual, deixou de mencionar à História de Pelotas e, de modo igual, a do Rio Grande do Sul, que a Praia do Laranjal nunca fora comprada, mas sim adquirida, o que é bem diferente. Quando se adquire algo, ora, entra-se em posse do bem adquirido, passando-se a ter uma ´´qualidade de obtenção´´, sem que para isso haja a necessidade da compra.
Pois dado ao zelo profissional do doutor Antônio Augusto de Assumpção com a família Fontoura, o ´´Laranjal´´ acabou sendo-lhe presenteado, sem que Antônio Augusto de Assumpção pagasse sequer um níquel pelas terras recebidas e provenientes de dona Isabel Francisca da Silveira, e, consequentemente, dos seus descendentes.
Posto que, pelo lado do Barão de Jarau, a história já não pode ser contada do mesmo jeito, pois Joaquim José de Assumpção, conforme aconteceu com o seu filho, o senador Joaquim Augusto de Assumpção, fora proibido pelo Império, e, posteriormente, pela República, de comprar mais terras no Rio Grande do Sul. É claro que todos nós sabemos sobre os viscondes, e, mais tarde, a respeito dos barões, porque estes recebiam de presente do Imperador do Brasil, glebas e glebas, à criação de gado vacum e ao fomento da agricultura, esta última sem muita expressão. Porém, com o cruzar dos anos, no caso de Joaquim José de Assumpção - o Barão de Jarau - viera ele a tornar-se em um dos maiores proprietários rurais da Província do Rio Grande, havendo várias estâncias sob o seu registro, não apenas na região de Pelotas, mas em outros distritos, e em diversos municípios do nosso Estado. O Barão, que foi fundador da Associação Comercial de Pelotas, e o homem mais rico do Rio Grande do Sul, não deixou de obedecer a prerrogativa do Imperador, de quem, afinal, havia ganhado o baronato.
Pois bem! A ´´Estância do Laranjal´´ não tem a menor relação com as terras do Barão de Jarau, porque parte das mesmas lhes chegaram às mãos por um presente imperial; por outra banda, tantas outras das suas fazendas foram por ele obtidas de outros proprietários. Portanto, neste caso, faz-se necessário e imprescindível distinguir-se a CHARQUEADA da ESTÂNCIA. A primeira irrompe de Joaquim José de Assumpção; a segunda se assoma do médico Antônio Augusto de Assumpção. E é este espaço, postimeiro, que, em última instância, irá formar a ´´Praia do Laranjal´´, tornando-se distinta pelos seus cinco balneários lacustres. Por ordem de criação: Vila Residencial Balneário Santo Antônio, Vila Residencial Balneário dos Prazeres (jamais chamem tal localidade de Barro Duro), Vila Residencial Balneário Valverde, Balneário Novo Valverde e Balneário Pontal da Barra. Todos eles formam o que chamamos de ´´Praia do Laranjal´´, e não ´´Praias do Laranjal´´, como erroneamente designa a Prefeitura Municipal de Pelotas e alguns veículos de Comunicação.
Mas voltemos a um ponto, o qual considero importantíssimo. Na verdade, embora a Vila Residencial Balneário Santo Antônio tenha sido fundada primeiramente, o grande pioneirismo quanto à abertura da ´´Praia do Laranjal´´ ao povo pelotense, e todas as glórias possíveis inerentes, e única glória, cabem ao coronel Arthur Augusto de Assumpção, porque por cima das suas terras foi ´´pavimentada´´ a estrada que levaria à beira da praia. Então, caro leitor, siga o meu raciocínio: aqueles que rumam ao ´´Laranjal´´, no sentido Pelotas/Laranjal, pelo lado esquerdo vão deparar-se com as terras que pertenceram a Joaquim José de Assumpção - o Barão de Jarau; aqueles que se direcionam à Praia do Laranjal no sentido Laranjal/Pelotas, também pelo lado esquerdo irão encontrar-se com as terras que pertenceram a Antônio Raimundo de Assumpção - este antigo charqueador - cuja sede de sua propriedade está localizada onde hoje se acha o Clube Caça e Pesca. Tais glebas, mais tarde, foram herdadas por Arthur Augusto de Assumpção, desde a ponte sobre o Arroio Pelotas, até entestar com as águas da Laguna dos Patos (jamais ousem chamar a Laguna dos Patos de Lagoa). Não obstante, para se alcançar a qualquer um dos futuros cinco balneários criados à beira da Laguna dos Patos, ora, era essencial que se cruzasse pelas terras do coronel Arthur Augusto de Assumpção. Do contrário, como se chegar à praia? De helicóptero?
O meu avô paterno, e também meu padrinho, Arthur, sentiu o apelo das famílias pelotenses, estas mesmas que começavam a lhe pedir licença para aproveitar os dias de sol à beira águas mansas do ´´Laranjal´´. Pois ele não relutou, nem pensou duas vezes. Ali mesmo, onde ainda existem aqueles dois pilares brancos, à margem direita da Avenida Adolfo Fetter, ao lado do Restaurante Vinicius Bistrô, criava-se a Granja Santa Helena, propriedade do coronel Arthur Augusto de Assumpção, esta que abrangia todas as terras, desde a ponte sobre o Arroio Pelotas, com exceção de apenas dois estabelecimentos rurais: a Charqueada da Costa, até os dias de hoje conhecida por este nome; e as terras que pertenciam a família Aranalde. Fora isso, dos dois lados do velho atalho, antes somente de areia, e, mais adiante, ensaibrado, toda essa área era propriedade de Arthur Augusto de Assumpção. A própria Avenida Rio Grande do Sul, e hoje Avenida Arthur Augusto de Assumpção, passavam "em riba" das terras do coronel Arthur.
Qual o caminho adequado, àquela época, então, para se chegar ao ´´Laranjal?`` Ora! O pelotense interessado em vir à praia era obrigado a tomar a Avenida Domingos José de Almeida, assim cortando todo o bairro do Areal, depois passando diante do "Monumento do Obelisco", indo-se ao fundo desta mesma localidade, quando tomava uma estradinha sinuosa, assim atravessando a Vila da Palha, até cruzar à frente da Charqueada da Costa (Charqueada do Barão de Jarau). Ali achava-se um pontilhão feito de toras e tábuas toscas, e, com medo ou sem medo, o sujeito era obrigado a sua travessia. Só assim chegava-se ao outro lado do Arroio Pelotas, quando se atingia as terras de Joaquim José de Assumpção. É claro que, nesses idos, a propriedade já pertencia a uma das filhas do senador Joaquim Augusto de Assumpção - senhora Marieta de Assumpção Rheingantz. Dali, o indivíduo seguia por outra picada, que se abria em meio ao mato fechado, a qual desembocava justamente na ´´estrada do Laranjal´´, esta que passava - eu repito - por cima das terras do coronel Arthur Augusto de Assumpção. Ao vislumbrar da porteira da Granja Santa Helena, a pessoa tinha que parar. O ´´passaporte laranjalense´´ era mostrado para o senhor Leão Dias, antigo capataz do coronel Arthur, que residia em uma pequena casa construída à margem da estrada, justamente para controlar a entrada e a saída das pessoas que quisessem usufruir das belezas do ´´Laranjal´´. Ali funcionava uma espécie de aduana. As permissões emitidas pelo vovô variavam: poderiam ser somente a um individuo que queria pescar em algum açude, ou às famílias que pretendiam desfrutar da praia. Porém, naquele local era obrigatório a exibição do documento escrito de próprio punho e assinado pelo coronel Arthur Augusto de Assumpção, o que permitia a entrada dos pelotenses em suas terras.
Queiram ou não, escrevam bobagens ou não, a história é esta. A história é uma só; e sempre será assim. E o Instituto Senador Joaquim Augusto de Assumpção guarda e preserva todos os documentos que comprovam, por A + B, que o ´´Laranjal´´ teve a aquiescência de Arthur Augusto de Assumpção, a fim de que se formassem, efetivamente, os balneários Santo Antônio, Prazeres, Valverde, Novo Valverde e Pontal da Barra. Distante de sua extrema sensibilidade à vontade do povo pelotense, o ´´Laranjal´´ continuaria com suas porteiras fechadas, pelo menos por muitos anos mais.
Quanto à datas de criação ou fundação dos balneários, consta-nos, em atas, as seguintes: Vila Residencial Balneário Santo Antônio (1952); Vila Residencial Balneário dos Prazeres (1953); Vila Residencial Balneário Valverde (1957); Balneário Novo Valverde (1981); e Pontal da Barra (1992).
A História é feita de fatos, e permanentemente os fatos se sobreporão às mentiras, sejam estas quais forem, e escritas por quem for. Os fatos formam a História, e, em contrapartida, as mentiras nada mais são do que a História deformada pelos vândalos da Cultura.
Eu encerro o artigo de hoje com um pequeno trecho extraído de uma relíquia: um livreto escrito pelo meu avô Arthur, pioneiro não só quanto à fundação da Praia do Laranjal, mas um visionário muito bem retratado por várias revistas de circulação nacional, quando ele escreve o seguinte:``O meu presente é feito de futuro, porque é no futuro que eu encontro o presente que hoje preparo com entusiasmo e coragem´´ (Granja São Joaquim, 28 de junho de 1948).
Na imagem abaixo, uma das autorizações dadas por Arthur Augusto de Assumpção às famílias pelotenses. Tal documento integra a Seção de Registro e Documentação Histórica do Instituto Senador Joaquim Augusto de Assumpção.