PODER NEGRO 25 ANOS
A ORIGEM
Há 25 anos atrás um grupo de amigos com gostos, estilo de vida, problemas e necessidades comuns
AMIZADE ESTUDOS TRUCO
MUSICALIDADE FUTEBOL CULTURA
ENERGIA TRUCO TRABALHO
HUMOR / ALEGRIA MULHERES ESTILO
13 DE MAIO NAMORO DANÇA
BLACK MUSIC BEBIDAS SAMBA ROCK
CARNAVAL CHURRASCO BREAK DANCE
Uniam forças para enfrentar os desafios da vida e suas lições reservadas para todos
os que integravam a classe social, níveis financeiros e culturais como a que eles tinham em comum. Antenados nas tendências musicais e nos estilos visuais da época, mais especificamente nos anos 80 para 90, ainda em fase escolar, sentiam na pele a pressão da falta de apoio sócio-econômico e a herança genética que já galgava a ancestralidade da geração, destacando-se na época o baixo grau de instrução e nível de formação profissional limitada, marcada pela sobrevivência através de serviços braçais e segregação social, até então aceita por seus pais, que sempre foram limitados às poucas e raras oportunidades que tinham. Isso tudo precisava mudar, a força do negro não podia se limitar apenas à força física, havia muito mais a explorar. Populando os arredores da cidade, de certa forma segregados da sociedade, porém, sem abrir mãos dos ideais de igualdade, honra e respeito, faziam dessas as armas para se manter, aliada à resistência, como a maior e melhor lição de vida aprendida e herdada dos pais cuja vida sofrida se abrandava na aposta de sucesso futuro dessa geração que se criava. A união de interesses e necessidades surgiu naturalmente, o preconceito era notado e por muito sentido na pele, porém, juntos, ninguém se atrevia a encarar, qualquer um que observasse perceberia que enfrentar aquela união poderia ser uma tarefa difícil em qualquer instância. Fosse no bairro, no centro da cidade, nos bailes nas casas de amigos e parentes ou mesmo nas atividades de lazer, esse grupo merecia respeito, pois não entrava para perder e sempre mantinha o respeito. A influência musical internacionalizada chocava com o nascimento dessa união. O rock internacional e sua vertente imperava, e o rock nacional nascia, o samba padecia e ainda havia a tentativa de ressurgí-lo na forma de pagode. A black music estourava pela América Rica e o acesso a ela era quase uma tarefa impossível para os brasileiros mais abastados, quanto mais para a geração Black anos 80 dos bairros distantes e menos favorecidos de Piracicaba. Chic Show, Black Mad, Zimbabwe faziam a diferença, porém, a onda que fazia a praia musical surfável naquela época, era por conta de Modelo Chic, Black Horse, Zanzibar, The Player Som, Black Way e outras equipes que faziam dos bailes do 13 de Maio e Centros Comunitários o lugar bom de se viver e encontrar os amigos. Nas noites sem opção, ou sem recurso financeiro, uma fita K-7 e um rádio que pegasse de forma limpa a Band FM, já servia para fazer a alegria e aumentar (ou melhorar) o acervo musical pessoal de cada um. Com um esforço ou outro, todos conseguiam comprar um LP e compartilhar na roda de amigos para fazer o som rolar, o passo de dança se liberar e integração virar festa. Uma mesa de truco, umas garrafas de cerveja, alguns quilos de carne e o som liberado, mesmo sem um telefone celular (que na época não existia) atraia amigos de vários pontos da cidade para unir-se à roda, alimentar uma boa conversa, trocas de idéias, curtições e criação de novos passos de dança a ser “lançado” no próximo baile recente que estivesse por vir. A intimidade permitia apelidos, muitos que dali nasceram chegaram e ficaram e outros que já vinham de casa, mas que eram permitidos e aceitos pelo grupo em si...
Com o passar do tempo a situação foi melhorando, o serviço, bom ou mau aparecia e com ele o dinheiro para consumir músicas, roupas e tirar uma onda na sexta-feira à noite na Pansa antes de ir para algum bailinho de Centro Comunitário. Sábados e domingos tinham endereço certos e atividades pré-definidas:
Normalmente sábado de manhã um passeio pela praça central, para curtir um pouco do que rolava na loja de discos – com direito até de ir lá, escolher um som e botar para rolar, à tarde um truco na casa do Valentim, se fosse uma época legal do mês podia até rolar um churrasquinho e à noite um aquecimento na PANSA, para finalizar com uma balada do 13 de Maio ou alguma opção mais legal que tivesse e que pela distância, já que a caminhada era a pé, fosse menor do que a caminhada até o centro da cidade. O domingo era de praxe, unir para zuar o que aconteceu no dia anterior, fosse nas redondezas da casa do Valentim ou na casa do mano Rocha e, de novo, lá corria a vaquinha para rolar uma bebida. Entendia-se que unidos já estava sendo feita a diferença, já que todos se apoiavam para enfrentar as adversidades naturais que a cabeça da população criava para o povo negro. Mesmo que de forma velada, imperava o Poder Para o Povo Preto... e nascia definitivamente o Poder Negro. Independia da cor, pois haviam negros assumidos com tom de pele mais claro. Independia da beleza, pois dentre os “normais” haviam os negros lindos. Independia da condição social, pois quem tinha mais, nunca se negava a compartilhar com o que estava sem algum dinheiro. Apenas dependia da real amizade e do instinto coletivo de sobrevivência, o importante era garantir a união e diversão de todos. A união era tão forte que qualquer um que faltasse era notado e, assim que possível, questionada a ausência, criando com isso uma névoa de carinho que cada um que convivia nesse meio podia sentir, a ponto de um ou outro fazer declarações de amor ao agrupamento quando com um pouco mais de álcool na cabeça. Todos sentiam-se protegidos, pois sabiam que ali estavam para o que desse ou viesse. Uns mais de paz, outros mais de vias-de-fato mas tudo equilibrado e bem administrado quando estavam unidos. De forma natural, outros agrupamentos surgiram inspirados na união do Poder Negro e, quando não, dissidentes do grupo. A busca da excelência fez com que as dissidências buscassem se destacar mais que o Poder Negro. Fosse na dança, na simpatia ou carisma e até mesmo no jeito de ser, sem perceber que tudo o que praticavam era uma forma de dar continuidade a um processo de evolução que nasceu naturalmente dentre os integrantes daquela geração. A união fazia a diferença, chamava a atenção. O carisma com todos, uma vez que todos os integrantes do Poder Negro tinham sua forma de interagir e atrair novos amigos, dava ao grupo uma fama na época que incomodava aqueles que não conseguiam, ou resistiam em, se unir ao movimento. Nascia a necessidade de identificar quem era quem e com ela a logomarca artesanalmente desenvolvida que rapidamente passou a fazer parte do grupo, conquistando a aceitação geral dos integrantes. Os tempos mudaram, porém o Poder Negro ainda impera com sua proposta de união e confraternização, como a que está acontecendo hoje, 25 anos após assumida a denominação do grupo e assim continuará, unindo as massas, relembrando os bons momentos, sejam eles musicais ou do dia-a-dia e cultivando os ideais, conceitos e aprendizados que sempre marcaram a vida de nós negros aqui em nossa cidade. A UNIÃO EM PROL DE UM BEM COLETIVO, É UM ELO QUE SÓ SE QUEBRA PELA FALTA DE INTERESSE GERAL.