18/10/2022
ELES INSISTEM, MAS, VENCEREMOS!
FOGO NOS RACISTAS! SEM CONCESSÕES!
Seria estarrecedor, se não fosse o que costumeiramente testemunhamos, ouvir a gravação da manifestação inequivocamente de cunho ra***ta do Presidente do Grêmio Náutico União, ainda que cheia de tergiversações para ser compreendidas não ostensiva, mas apenas subliminarmente, preocupadíssimo e indignado com o ultraje praticado por Seu Jorge, o qual não estaria adequadamente “vestido”, quanto por uma suposta falta de decoro dele no palco daquela sociedade, insinuando, ou afirmando, entre outras coisas, que estaria fumando um “cigarrinho” suspeito durante o show, justificando a aberração acontecida naquela moderna de “Casa grande”, chamando o agredido e os antirra***tas que com ele estão juntos, de desqualificados, ameaçando, inclusive, processar judicialmente o artista por alegadas quebras contratuais, postura normalmente adotada pelos agressores nos incontáveis casos de racismo que testemunhamos sistematicamente nesta “mui leal e valerosa cidade de Porto Alegre”. Creio que não será um exagero de minha parte imaginar que ele acredita que a ofensa foi denunciar mais este escabroso caso acontecido naquele tradicional clube deste chão. De regra, são os “capitães-do-mato” que fazem o serviço sujo. Desta vez, entretanto, foi diferente. Contudo, os tristes costumes do lugar foram preservados: agredir a vítima e quem mais possa estar ao seu lado e relativizar a conduta dos ofensores. Seu Jorge foi um negro mal-educado e atrevido aos olhos daquela gente.
Pois é! Estamos em Porto Alegre: a cidade do caso do “Homem-errado”, o Júlio Cesar, um ritmista da Imperadores, um trabalhador negro assassinado por agentes do Estado nos já distantes anos 80. É a mesma cidade onde um vereador derrotado, um político branco achou-se no direito de dirigir aos “insolentes” negros recém-eleitos vereadores como incapazes e, ou, indignos de serem representantes do povo; que viu um negro ser brutalmente espancado e morto em um grande supermercado por ter se “comportado mal” de forma a irritar os responsáveis por sua segurança como cliente. Agora, a cidade vaiou Seu Jorge no palco de um clube tradicional - e que de tão tradicional representa o que de mais anacrônico pode existir em uma sociedade - pelo fato de ele falar verdades inconvenientes aos ouvidos de quem pode pagar mais de quinhentos reais por um convite para um jantar comemorativo, enquanto trinta milhões de brasileiros passam fome, vivendo abaixo da linha da pobreza.
Seu Jorge, é um artista, não “apenas um músico”. Neste momento, vai além. É uma voz potente que se levanta contra o racismo estrutural que adoece dia após dia o país do negro Machado de Assis. Como um griot, banhado de sabedoria e ponderação, incorporado de Mandela, de Martin Luther King, arma seu povo para a luta fazendo entender que ela é legítim e é justa! Seu Jorge foi chamado de “negro vagabundo” pelos rechonchudos comensais dessa nobreza decadente - que das profundezas da sua mediocridade pensa que sua grana lhes torna uma espécie de semidivindade cruel, infantil, imbecil e sem limites - logo após falar sobre oportunidade e inclusão, sobre injustiça social para pessoas que se supõe tenham acesso à cultura e educação. Diga-se, Seu Jorge era, paradoxalmente, quem estava trabalhando lá. A maioria dos presentes é que estava, por assim dizer, “vagabundeando”. A arte, aliás, é uma das poucas formas de redenção pelo trabalho para pessoas pretas em um país que historicamente lhes trata como párias, que lhes negou o direito à aquisição de propriedades ao mesmo tempo que aos imigrantes europeus dava lotes de terras agricultáveis, no século XIX; que lhes negou acesso à educação, ao mesmo tempo que proibia o voto de analfabetos; políticas francamente ra***tas.
Desafortunadamente, Porto Alegre, na qual vivo e que não difere de outros rincões destas plagas, tem demonstrado muito apreço e apego por esses desvalores e, diariamente, testemunhamos as mais variadas formas de manifestações naturalizadas por um racismo que é estrutural e que só será desconstruído com a luta de todos aqueles, negros e brancos, que, compreendendo a sua existência tiverem a coragem de enfrentá-lo pela convicção de que isto é o correto a ser feito, sem se escudar em frases feitas e fáceis do, ao melhor estilo Morgan Freeman, de que devemos baixar a cabeça e seguir em frente, pois somos todos humanos e capazes. Aliás, Morgan Freeman precisava era ouvir Racionais. Mano Brown tem muito para lhe ensinar.
Covardes, protegendo-se uns aos outros, tentaram agredir um único negro, para intimidar a todos. Porém, todo ra***ta é um criminoso covarde, e não se pode esperar outro tipo de comportamento, só porque tomando champagne e scotch em salões endinheirados sentem-se imunes às leis e, principalmente, às regras que existem acima delas: humanidade, amor, respeito à diversidade. Trago, porém, uma má notícia para esses aí: sua agressão não deu certo! Ao contrário, despertará, a cada dia mais, aqueles que ainda não entenderam que o Brasil somente será um País quando respeitar todos os seus cidadãos. A ideia transmitida ao mundo por esses aí é: “Se esses que se dizem a elite do lugar têm esse tipo de comportamento medieval, que lugarzinho miserável”! É muito vergonhoso, e a vergonha pode ser um combustível poderoso. Só haverá uma saída, no final, que será compreender que não pode haver para ra***tas e racismo na humanidade. Façam isto rapidamente. Será menos doloroso.
Seu Jorge é música, é arte! Então, aos intolerantes, versos de Mangueira: “A esperança brilha mais na escuridão” e “Não há futuro sem partilha nem messias de arma na mão”! Vocês perderão, pois acreditamos que o bem vencerá o mal. Aos que ainda toleram os intolerantes, é tempo de despertar! O silêncio dos que assistem passivamente tanta injustiça é a tal “bondade cruel”, cantada nos versos da Paraíso do Tuiuti, em 2018. Ser surdo e cego às manifestações ra***tas, como está sendo, igualmente, a Direção do Grêmio Náutico União, que limitou-se a emitir uma nota de repúdio, potente e forte como “água de salsicha” não é o suficiente. Ter amigos negros não torna ninguém antirra***ta. Apenas estabelece uma zona de conforto, uma covardia “low profile”. Existe um lado a ser tomado nesta verdadeiramente “ímpia e injusta guerra”, como fala aquele hino, aliás, também com versos ra***tas. Escolha o seu.
Tenho a mais plena certeza de que, ao final deste texto, alguns virão dizer que estamos sendo violentos, pregando revanchismo, etc. É que estão acostumados com o silêncio dos bons. Está na hora de se fazer barulho. De desassossegar quem se acha melhor do que os outros por causa da cor da pele. Pele que, ao final, apodrecerá, desimportando a sua cor.
E, ainda que seja em um sentido figurado: Fogo nos ra***tas! Sem concessões!
Não basta não ser ra***ta! Seja antirra***ta!
Texto: Marcelo Costa (Maguila)