12/01/2025
" Era uma vez um elefante muito pequenino que vivia muito contente na floresta com o pai e com a mãe.
Depois, os dois tiveram de ir fazer uma viagem, e despediram-se do filho, Rama, deixando-lhe uma pilha de recomendações e conselhos.
Passaram muitos dias, Rama ia crescendo, às vezes usava os conselhos dos pais, outras tinha de decidir sozinho, e assim ia crescendo, tornando-se num elefante adulto. Os outros animais da sua família e até os vizinhos gostavam muito dele e queriam ajudá-lo, mas Rana não lhes ligava, era muito independente e queria decidir tudo sozinho.
Os dias iam passando e Rama ia tratando da sua vida, procurando alimento e renovando o capim da sua caminha, para que fosse sempre fofa.
E passeava. Passeava muito, porque queria descobrir o mundo.
Até que um dia, sentiu uma grande tristeza. E dos seus pequenos olhos de elefante rolaram oito lágrimas.
Acabara de descobrir uma coisa muito triste e para a qual parecia não haver solução.
É que ele fazia mal sem querer!
Destruía sem querer! Ele que tanto gostava de ajudar os outros animais com menos força que ele, afinal, prejudicava outros seres vivos, porque, como era muito pesado, sempre que pisava uma flor esmagava-a, tirando-lhe a vida.
Que fazer? - logo ele que gostava tanto de flores!
Decidiu a andar com muito cuidado só pelos carreiros batidos da floresta olhando de soslaio, com protetora ternura, para as florzinhas que balouçavam, inocentes, na orla desses caminhos.
Mas isto era complicado. Às vezes tinha de dar uma grande volta para chegar a casa, e acabava por lá chegar já de noite e muito cansado. Outras vezes negava -se a fazer corridas com os seus primos e amigos, com receio de espezinhar as flores. Começou a entristecer, mas não queria confessar isto a ninguém, com receio de que fizessem troça dele.
O pai e a mãe não havia meio de regressarem e, não tinha ninguém com quem abrir o seu coração e falar sobre o que o atormentava.
O sol acabara de se deitar e todos os pássaros já tinham voado rumo ao céu. Estava tudo sossegado e azul. As estrelas começaram a aparecer e a pestanejarar, e foi então que Rama suspirou em voz alta, dizendo:
- "Oh, se ao menos eu fosse pássaro, ou se eu tivesse asas, já não pisava as flores...os pássaros não esmagam as estrelas!"
Ouvindo isto, um mocho que vivia numa árvore per tu o dele e que há muito o observava, falou: " Não desanimes, amigo. Tens de aprender a gostar daquilo que és. Tu não tens culpa de ser pesado e até evitas destruir seja o que for. O teu auxílio aos outros é precioso, e, além disso , f**a sabendo que, sem te aperceberes, até tens ajudado a fazer nascer outras flores..."
Ouvindo isto, o elefante abanou muito as orelhas e deu três roncos de alegria. E foi então, que se levantou uma brisa ligeira que trouxe com ela pelo ar, duas florzinhas que se lhe enrolaram na sua tromba generosa, trazendo um sinal de paz ao seu coração.
E foi então que todas as estrelas no céu se transformaram de repente em flores, pequenas flores azuis e logo douradas, que palpitavam , que estremeciam, e lhe acenavam com Amor."
Isabel da Nóbrega. "Rama, o Elefante Azul". Ilustrações de Leonor Praça. Plátano Editora