14/01/2023
Por que nos sentimos infelizes quando não podemos ter o que queremos? Por que haveríamos necessariamente de ter o que desejamos? Acreditamos ser nosso direito, não é? Mas já nos teremos perguntado por que haveríamos de possuir o que queremos, quando milhões não conseguem possuir sequer o que necessitam? E, de resto, por que o queremos? Há a nossa necessidade de alimento, roupa e abrigo; mas não estamos satisfeitos com isso. Queremos muito mais. Queremos sucesso, queremos ser respeitados, amados, considerados; queremos ser poderosos, queremos ser poetas famosos. Por quê? Já refletiram nisso? Por que desejamos todas essas coisas? Não que devamos ficar satisfeitos com o que somos. Não é isso que quero dizer. Isso seria horrível, seria tolo. Mas por que essa constante ânsia por mais, mais e mais? Essa ânsia indica que estamos insatisfeitos, descontentes; mas com quê? Com o que somos? Eu sou isto, não gosto do que sou, então quero ser aquilo. Penso que parecerei muito melhor num novo casaco ou num novo sari, então eu o desejo. Isto quer dizer que estou insatisfeito com aquilo que sou, e creio que posso escapar de meu descontentamento adquirindo mais roupas, mais poder, e assim por diante. Mas a insatisfação ainda está aí, não está? Eu simplesmente a cobri de roupas, de poder, de carros.
Por conseguinte, temos de descobrir como entender aquilo que somos. Simplesmente cobrir-nos com posses, com poder e posição, não tem sentido, porquanto, ainda assim, seremos infelizes. Essa mesma luta para adquirir, para se tomar alguma coisa, é a causa do sofrimento. Mas se começar a compreender aquilo que você realmente é, e se se aprofundar cada vez mais nisso, verificará então que algo completamente diferente acontecerá.
— J. Krishnamurti