09/05/2023
Hoje o mundo amanheceu mais triste, mas certamente o céu está em festa. Deixamos aqui nossa homenagem à eterna Rita Lee com o texto publicado por Nelson Motta, idealizador do Noites Cariocas, em sua coluna no Jornal O Globo, no dia 28.05 de 2021:
“Rita, querida,
Hoje me lembrei da minha primeira vez. Você chegando com os Mutantes nos ensaios do Festival da Música Brasileira de 1967, em que iam cantar “Domingo no parque” com o Gil. Uma ruivinha linda, de olhos azuis e longos cabelos lisos, com um look moderno e um nome de americana. A MPB de raiz tinha o rock como inimigo ideológico, era a rendição à cultura americana, ao colonizador, à alienação, chegou a promover passeatas contra a guitarra elétrica. Eu era da MPB, mas estava encantado com o pré-tropicalismo de Gil e Caetano. Quando você apareceu tocando seu pandeirinho e cantando com Gil e os Mutantes até a MPB mais careta ficou fascinada com sua graça. Pena que seja tão alienada, rosnavam os nacionalistas de esquerda que não percebiam o caráter transgressivo, libertário e transnacional do rock.
Outro grande barato foi ver de perto sua apresentação triunfal com os Mutantes no Festival da Canção, vestida de noiva, com Serginho de toureiro e Arnaldo de pajem medieval. O Maracanãzinho inteiro queria casar com você!
Toda vez que você vinha lamentar e reclamar da sua expulsão dos Mutantes eu dizia que era o melhor que podia acontecer na sua vida. Porque você pôde iniciar uma carreira solo triunfal, possibilitou seu casamento musical perfeito com o Roberto, e virar rainha do pop e uma das maiores letristas da nossa música, a primeira compositora brasileira a fazer grande sucesso popular, com estilo próprio, feminista debochada, crítica de costumes, libertária e transgressora, sem perder a ternura. E virou o crush de várias gerações.
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