Num local privilegiado, na orla da Zona Sul, entre Arpoador e Ipanema, a casa de shows e bar soube conjugar programação musical diversificada e consistente, ambiente aconchegante e com boa acústica, serviço de cozinha e bar de primeira e equipe (dos programadores aos atendentes) sintonizada com seu perfil. Daí o fato de, 17 anos após o seu fechamento, o Jazzmania continuar sendo lembrado tanto por
seu público quanto por quem lá se apresentou. Um elenco de peso, por sinal, passando por grande nomes do jazz (Wayne Shorter, Wynton Marsalis, T***s Thielemans, Art Blakey, Herbie Hancock, Jack DeJohnette, Joe Pass, Chet Baker, Enrico Rava, Pat Metheny, Marcus Miller, Branford Marsalis…), do instrumental brasileiro (Hermeto Pascoal, Robertinho Silva, Nivaldo Ornelas, Raphael Rabello, Ricardo Silveira, Leo Gandelman, Marcos Ariel, Wagner Tiso, Victor Biglione…) e da canção brasileira (gente consagrada como Moreira da Silva, Nana Caymmi, Edu Lobo, João Bosco, Marina Lima, Z**i Possi e Moraes Moreira ou quem na época iniciava a carreira, como Marisa Monte, Ed Motta, Cássia Eller…). O embrião do Jazzmania começou em 1977, na série “A música que os músicos querem fazer”, organizada pelo pianista Marcos Ariel e pelo empresário Luís Antônio Cunha no Barril 1800, no térreo do prédio, onde, atualmente, funciona o Bar Astor. O sucesso dessa empreitada, com informais rodas de choro, foi um dos argumentos usados por Luís Antônio para convencer seus sócios a reformarem o segundo andar, até então utilizado como depósito, e criarem um bar com música ao vivo. Tendo Ariel como primeiro diretor artístico, o Jazzmania estreou em 1983 e logo virou um endereço fundamental para quem estava atrás de boa música, drinks & petiscos e gente interessante. Além dos artistas programados, o local abrigou inesquecíveis canjas de um dream team internacional, incluindo, entre outros, Herbie Hancock, Jack DeJohnette, Chet Baker, Max Roach, Jimmy Smith, Take 6, Tony Williams, Marcus Miller, George Benson, Pharoah Sanders, Albert Collins, Clarence “Gatemouth” Brown, Abbey Lincoln, Chick Corea, Ernie Watts... Estes, alguns dos mestres do jazz e do blues que, durante as edições do Free Jazz Festival, após os shows no Teatro do Hotel Nacional rumavam para o bar na esquina da Rua Rainha Elizabeth com a Avenida Vieira Souto, onde o baterista Robertinho Silva comandava um grupo All Star, que contou, entre outros, com Nivaldo Ornelas, Cristóvão Bastos, Zé Nogueira, Arthur Maia, Délia Fischer, Márcio Montarroyos e Mauro Senise. Para muita gente, melhor do que o festival em si eram as canjas que avançavam pela madrugada. O Jazzmania também foi o berço da superbanda vocal-instrumental Zil, que reuniu Zé Renato, Cláudio Nucci, Marcos Ariel, Ricardo Silveira, Zé Nogueira, João Baptista e Jurim Moreira, e cujo único disco, editado em 1986, hoje é disputado em sebos; o palco no qual a jovem Marisa Monte estreou e começou a despontar para o estrelato; onde, em 1988, Baden Powell fez a sua primeira temporada ao voltar da Europa; e o lugar que abrigou a Midnight Blues Band, projeto paralelo que reuniu músicos do Barão Vermelho e do Kid Abelha. Como David Hadjes, que, a partir de 1985, foi o segundo diretor artístico da casa (que, depois, contou também com a direção de, entre outros, Monique Gardenberg, Elisa Ventura e Paulo Renato Rocha), lembra, o jazz no nome da casa nunca a restringiu ao gênero. Daí também caber dos sambistas Guilherme de Brito e Moreira da Silva (este nunca fizera um show na Zona Sul carioca e foi um estrondoso sucesso) a poetas como os do grupo Camaleões (formado por Pedro Bial, Luiz Petry e Claufe Rodrigues), de corais como Garganta Profunda, Coro Come e Canto do Rio a cantores e compositores como Ivan Lins e Jards Macalé. O Jazzmania apostou numa programação eclética, valorizando a diversidade cultural e formando novas plateias. Assim, as segundas eram reservadas para a poesia (Fausto Fawcett foi outro que passou por lá), as terças para corais, as quartas para artistas novos, enquanto de quinta a domingo aconteciam as temporadas, com nomes como Joe Pass, Enrico Rava, Hermeto Pascoal, Betty Carter, Marina Lima, Z**i Possi, Raphael Rabello, Kid Abelha, Jorge Ben Jor (que gravou um disco ao vivo, recriando seus sucessos, “Ao vivo no Jazzmania”, 1993), Sérgio Dias (o líder dos Mutantes foi outro que fez um disco solo ao vivo ostentando o nome da casa, “Jazzmania live”, 1986) e Wagner Tiso (que também gravou um disco lá, inaugurando o selo Jazzmania Records, distribuído pela EMI, “Wagner Tiso ao vivo com Rio Cello Ensemble”, 1995). Exemplos de sobra, que mantêm o Jazzmania na memória de todos. ((Antônio Carlos Miguel (jornalista especializado em música desde os anos 70, é autor do livro "Guia de MPB em CD", membro votante do Grammy Latino, do júri e do conselho do Prêmio da Música Brasileira)))