04/12/2024
ESCRE(VER) AMOR
Tenho essa frase tatuada no braço, pra que eu nunca esqueça de enxergar o que me cerca do jeito que Valter Hugo Mãe, no livro amarelo, diz que o seu avô enxerga. Do jeito que me ensinou meu pai. Como uma detetive de interiores. Uma escavadora de miudezas. Uma perguntadora de inutilidades. Uma caçadora de bonitezas.
Eu poderia preencher qualquer uma dessas opções (ou todas acima) num formulário que perguntasse minha profissão. Deixando, possivelmente, embaraçado quem lesse, pensando que coisa assim não existe. É só o que existe, eu diria.
Porque escrever é sempre um modo de ver. Primeiro a gente enxerga, a gente se mostra aberta aos mistérios da procura, primeiro a gente repara no que muitas vezes nem se repara. Só depois é que esse olhar dá a mão pra palavra e faz a mágica acontecer. Quando um casal me contrata, antes do meu texto, eles querem o jeito que eu vejo. Por isso nunca deixo meu olho acomodar.
Manoel de Barros diz que “Sabedoria pode ser que seja ser mais estudado em gente do que em livros”. Entendo o que ele quer dizer. Mais reparo e menos diploma. Porém, há livros, como os dele, que nos ajudam a ler toda gente melhor. É nesses que eu me demoro mais.
Escre(ver) amor. Esse foi o título da palestra que eu dei semana passada para um grupo de 50 celebrantes de todo o Brasil. Esse é o tema da minha vida. E o que foi mais bonito é que enquanto eu mostrava o meu olhar, esse lugar onde a palavra começa, eles me devolviam o deles – de uma acolhida sem tamanho – e tudo em volta brilhava e a manhã era generosa como poucas vezes se viu.
Agradeço imensamente a todos os pares de olhos que cruzaram com os meus nesse evento. E agradeço – sempre e muito – ao Bruno e à Vidinha, nossos amados BemDitos, por orquestrarem tão generosamente esse encontro.
Acho que já sei o que quero no meu epitáfio, quando eu me for, daqui a 100 anos: Escre(viu) amor. Vão dizer que palavra assim não existe. Mas lembrem-se: é só o que pode existir. ❤️