Alguns treinadores brasileiros em viagem nos EUA tomaram conhecimento do movimento masters e começaram a comentar o assunto aqui no Brasil.
Um deles e o que mais se interessou foi o Prof. Waldyr M. Ramos, em uma de suas viagens se surpreendeu ao ver o treinamento de várias pessoas com idades avançadas.
Ao chegar no Brasil iniciou contatos com a direção da Federação Aquática do Estado do Rio de Janeiro objetivando criar aqui um movimento similar ao Americano.
A partir daí nossa natação masters começou a trilhar seus passos que todos conhecemos, porém para um esclarecimento mais detalhado nada melhor que sabermos diretamente daqueles que participaram desta história .
No mês de junho do ano de 1980, um anúncio nas páginas do Jornal do Brasil conclamava: “Se você já passou dos trinta e ainda se acha com disposição para disputar um campeonato de natação, procure a Federação Aquática do Rio de Janeiro”. O local escolhido para aquela competição – destinada a ex-atletas e “não atletas” – foi o Clube de Regatas do Flamengo. O idealizador do projeto foi o então presidente da federação carioca Rogério Carneiro, junto com o saudoso nadador e funcionário da federação Flávio Bueno.
A princípio, a idéia de fazer com que nadadores que já haviam encerrado suas carreiras voltassem a competir e, ao mesmo tempo, fazer com que pessoas – de 30, 40, 50 anos de idade – que nunca tinham participado de um campeonato acreditasem na possibilidade de, da noite para o dia, se tornassem atletas competitivos, parecia um fracasso anunciado.
Quase todos duvidaram do sucesso do tal evento, menos Carneiro, e também Bueno. E a intuição daquele engenheiro-civil – que nunca cumpria o segundo ano de seu mandato na FARJ funcionou: quase 400 pessoas se inscreveram para o torneio. “Foi muito gratificante ver ali nas piscinas do Flamengo aquela gente – muitos com mais de 70 anos – nadando. Sem compromisso com vitórias, sem buscar recordes. O espíritos dos que o de contribuir para uma filosofia de vida mais saudável”, recorda, saudoso, Carneiro, lembrado que o campeonato era tão alheio a disputas acirradas que a federação nem exigiu dos participantes documentos que comprovassem suas idades.
O êxito do evento foi tamanho que obrigou a FARJ a repetir nos meses seguintes reedições do torneio – nas piscinas do oberto ali um filão, uma parcela da sociedade até então desprezada pelas federações, clubes e academias. Nós sentíamos que era necessário que os tais ‘atletas de fim-de-semana’ fossem orientados. Promovíamos, – além de educação física, festas e torneios – palestras médicas para assegurar uma prática esportiva saudável. Até então, medicina esportiva era só existia para jovens”, explica Carneiro, afirmando ainda que, além de ex-nadadores e novos esportistas, os pais dos jovens atletas passaram a nadar e até competir. “Eles se tornaram mais compreensivos com seus filhos. E com os treinadores também”, br**ca o ex-presidente – que na época tinha como vice ninguém menos que Coaracy Nunes.
À frente da FARJ, Rogério Carneiro – além de dar o pontapé inicial para a criação daquelas que um pouco depois viriam a se organizarem e a receberem o nome de associações masters – ajudou a fazer do nado sincronizado um esporte olímpico. Junto com Sílvio Kelly, que foi um dos mentores intelectuais da criação, em 1984, da ABMN, dando impulso nacional ao movimento, a priori restrito ao Rio. De tal modo que, ao final do seu mandato, em 82, a natação de masters já era uma realidade.
No mesmo momento em que as lentes da TV Globo registravam o veterano Gastão Figueiredo fazendo uma travessia que ligava Rio a Paquetá; um campeonato masters, no Japão, reunia mais de 4000 participantes de todo o mundo. “Ao contrário das primeiras competições, onde só havia provas curtas, nos meados da década de 80, os masters já disputavam todas as provas olímpicas”, frisa Rogério e acrescenta: “a FINA não tinha outa alternativa, não podia desprezar o vulto que o movimento tinha tomado”, diz ele referindo-se à decisão da Internacional de obrigar as associações a vincularem-se às confederações nacionais, sob a pena de tornarem-se ligas clandestinas. “Devido ao enorme crescimento do número de atletas acima dos 25 anos inscritos nas competições pelo mundo afora, a própria FINA se viu obrigada a criar o seu próprio departamento de masters”, acrescenta Rogério, que acredita que o êxito da filosofia masters não se resuma ao espectro esportivo.
Chegaria até a dizer que ajudamos a abrir uma nova perspectiva no mercado de trabalho. De certa forma, impulsionamos aquelas pessoas que antes se consideravam incapazes de praticar algum esporte. Hoje estas estão nas academias, algumas têm personal-trainers, podem estar freqüentando as mais diversas escolinhas, compram material esportivo. Assim ganham os clubes, os profissionais de fisioterapia e educação e o comércio. Na verdade, os que passaram a ver a vida de outra forma, com mais otimismo – emenda Rogério Carneiro, que voltaria a presidência da FARJ no biênio 87/88.