10/09/2022
A expressão "Para inglês ver" surgiu por volta de 1830, quando a Inglaterra exigiu que o Brasil aprovasse leis que impedissem o tráfico de escravos. No entanto, todos sabiam que essas leis não seriam cumpridas, assim, essas normas eram criadas apenas “pra inglês ver”.
Os ingleses, que tinham explorado a mão-de-obra escrava durante mais de duzentos anos, sobretudo monopolizando o tráfico de negros africanos, passaram a liderar os movimentos contra a escravatura. Apontam-se para tal razões económicas. Toda a Europa já estava envolvida pelo iluminismo, e uma das possibilidades é que os doutrinadores liberais, dentre eles, Adam Smith tenham influenciado essa postura, ao afirmar que o trabalho escravo era mais caro do que o trabalho livre.
Assim, a partir de 1807, a Inglaterra proibiu o tráfico de escravos nas suas colónias, abolindo definitivamente a escravidão a partir de 1833. Daí em diante, começaram uma agressiva campanha pelo fim da escravatura nos demais países, inclusive aproveitando-se da sua supremacia marítima na ocasião. Em 1826 obrigou o Brasil, que havia recentemente adquirido a independência, a firmar um tratado de abolição do tráfico em três anos, o que não foi efectivamente cumprido. O Brasil, politicamente independente desde 1822, era economicamente dependente dos ingleses, porque eles lideravam a aquisição da produção do café, que estava em plena expansão e também forneciam a maior parte dos produtos manufacturados aos brasileiros. Além disso, os principais banqueiros do mundo eram os ingleses, que fomentavam a concessão de empréstimos e financiamentos aos produtores de café e aos que iniciavam a industrialização do país. Dessa forma, e também por conta da vinculação política estabelecida desde a chegada da Corte portuguesa ao Brasil, em 1808, a pressão britânica era intensa, o que levou o Governo Regencial — que administrava o país por causa da menoridade do príncipe Dom Pedro II, e que fora colocado no trono com a abdicação de seu pai, Dom Pedro I do Brasil — a promulgar uma lei, em 1831, que declarava livres os africanos desembarcados em portos brasileiros desde aquele ano. Mas o sentimento geral era de que a lei não seria cumprida, fazendo circular pela Corte, inclusive na Câmara dos Deputados, o comentário de que o Regente Feijó fizera uma lei só "para inglês ver".
Ficou, assim, a expressão que designa tanto leis que só existem no papel como também qualquer outra coisa feita apenas para preservar as aparências, sem que efectivamente ocorra.
Outra versão é que em 1815, os portugueses e os ingleses teriam firmado um compromisso, que proibia Portugal de traficar escravos. Mas, Portugal não estava a cumprir o compromisso, o que levou o Parlamento Britânico, por volta de 1835, a aprovar uma Lei que criminalizava a escravatura e concedia, unilateralmente, à Royal Navy poderes para abordar e inspeccionar os navios portugueses. Como estratégia para enganar os britânicos, os portugueses carregavam a embarcação que ia à frente da frota com uma carga inofensiva para ser inspeccionada e, consequentemente, proporcionasse a passagem da frota lotada de escravos que seguia atrás, sem a devida inspecção.
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