Assim como acredito no poder da natureza, acredito nas manifestações expressivas que a música pode causar. A quem interessar, esse terrário nasceu ao som do álbum de estúdio “Dois”, da Legião Urbana.
Sem descartar a genialidade do lápis de Renato Russo nas outras faixas e a entrega instrumental da banda, aqui o foca será em “Índios”. O título é assinado entre aspas pois se trata de uma metáfora sobre ingenuidade e confiança.
A letra reflete sobre a colonização do Brasil. Enquanto os portugueses trocavam objetos sem valor comercial por ouro e outras riquezas da natureza em um ato em que os povos originários acreditavam ser “como prova de amizade”, na verdade as terras foram exploradas e os índios escravizados. Mas também chama atenção para uma sociedade esculpida no comprar, usar, acumular e descartar.
“Quem me dera ao menos uma vez
Que o mais simples fosse visto como mais importante;”
Ainda sobre o contexto da ocupação, os índios viviam felizes e valorizavam muito mais a natureza, a família e suas comunidades.
“Quem me dera ao menos uma vez
Acreditar por um instante em tudo que existe
E acreditar que o mundo é perfeito
E que todas as pessoas são felizes;”
Aqui, a estrofe reforça a ânsia de sentir a pureza e a ingenuidade como se a vida fosse uma utopia, entretanto as pessoas estão cada vez mais egoístas e empáticas. É com certeza uma das letras mais carregadas e crítica, que reconhece o que há de ruim e rompe a ilusão que tudo são flores.
Essa semana a PL do veneno foi aprovada e flexibilizou ainda mais o uso de agrotóxicos no país. Temos um governo e legislativo que não têm nenhuma preocupação com o meio ambiente e a saúde, que persegue e destrói ambientalistas e lideranças de comunidades dos povos tradicionais. Um desastre sem precedentes que só me faz pensar que nem precisamos de espelhos para ver o mundo cada vez mais doente.
.
.
.
Trilha de Júlio Ettore
#NãoAoPacoteDoVenen