24/09/2024
UM POUCO DE HISTÓRIA
Liberto Solano Trindade, saiu na Velha Guarda do Bloco do Chiquinho no Carnaval 2.024.
Honra e reverência!
Liberto Solano Trindade, mestre-sala, poeta, artista visual, promotor cultural, filho do poeta Solano Trindade e da coreógrafa Margarida Trindade, em entrevista para meu novo livro, “Eu Sou o Samba”.
“Meu pai, Solano Trindade, morava em Caxias e fazia aquele trajeto de trem até o Vermelhinho, no Centro do Rio, todos os dias. Então nessa época, ele criou o Teatro Popular Brasileiro, junto com minha mãe, Margarida, e o sociólogo Edison Carneiro, e escreveu a poesia:
‘Trem sujo da Leopoldina, correndo, correndo, parece dizer, tem gente com fome, tem gente com fome, tem gente com fome. Só nas estações, quando vai parando, lentamente começa a dizer, se tem gente com fome, dá de comer, se tem gente com fome, dá de comer, se tem gente com fome, dá de comer. Mas o freio do ar, todo autoritário, manda o trem calar. Psiuuuuuuuuuu”.
Durante a gravidez da minha mãe ele fez uma poesia pra ela, como se eles estivessem conversando:
“Mulher barriguda que vai ter menino, qual o destino que ele vai ter? Quem será ele quando crescer? Haverá guerra ainda? Mulher barriguda, tomara que não”. E esse bebê era eu. Então isso em 1943. Hoje eu estou com 80 anos.
Minha mãe dava aula de dança, ela ensaiava o pessoal, ela ensaiava ritmo, dança, ela costurava, ela lavava, ela cuidava da gente. E ela transferiu isso para o hospital no Engenho de Dentro, o Centro Psiquiátrico do Engenho de Dentro.
E aí ela passou a trabalhar com a doutora Nise da Silveira. E junto com ela, com as duas, para completar, trabalhava lá uma Ivone. Que depois se tornou Dona Ivone Lara, compositora e cantora.
E a minha mãe foi uma das responsáveis pelo avanço na recuperação de doentes. Porque ela dava pra eles tudo aquilo que já fazia no teatro.
Ela foi terapeuta ocupacional do hospital. E a luta da Dona Nise da Silveira era acabar com essa coisa do manicômio.
Lá no Unidos do Peruche, depois que me mudei para São Paulo, eu fui vice-presidente, fui orientador de mestre-sala e porta-bandeira, e representante na UESP, a União das Escolas de Samba de São Paulo. Era representante da escola.
E como representante levei franceses da empresa que eu trabalhava para participar das festas no Ás de Ouro, que é no bairro da Casa Verde, para angariar fundos para a construção da quadra, entendeu?
Não tinha quadra, não tinha nada no terreno naquela época no Peruche.
Eu carregava concreto, eu pintava, eu fazia o diabo, subia em cima de andaime para levar o concreto, trabalhando.
E dava o meu ticket para o pessoal ir almoçar. Botava o pessoal no carro e levava para almoçar.
Porque ali no Peruche eu pude viver o meu verdadeiro interesse com o samba. No Peruche eu consegui mostrar essa força. Entendeu como é? Eu não queria ser só o mestre-sala, o rei, o magnífico, não.
No aniversário da escola tinha uma missa antes. Todo mundo ia na igreja lá, rezar pela escola. Quando eu fui para o Peruche é que eu descobri o verdadeiro Liberto. O verdadeiro Solano. O verdadeiro Trindade. Porque o Peruche era uma entidade que não tinha um poderoso atrás. O presidente era duro, os componentes eram duros, todo mundo era duro.
E ali é que eu pude dentro da minha criatividade ajudar a escola. O Peruche foi onde o Liberto cabia. O Liberto foi liberto. E eu era uma pessoa, digamos assim, do coletivo. Existia um coletivismo dentro de mim.”
(Foto de Ricardo Beliell)