16/06/2017
A Pomba de Zebulom
Um pombo-correio consegue voar cerca de 650 km. Em 2013, porém, uma dessas aves se desviou de sua rota em uma corrida de pombos, numa ilha ao norte do Japão, e voou para o Canadá, percorrendo uma distância (pasme você!!!) de 7 mil km. Seu dono não o quis de volta, com receio de que o animal não suportasse a viagem, mesmo de avião. Não se sabe ao certo se por capacidade olfativa, ou por questões magnéticas relacionadas ao seu bico, mas um pombo-correio, via de regra, consegue percorrer longas distâncias sem se perder e depois retornar ao seu ponto de partida. Hoje, a criação de pombos-correio virou um hobby exótico (columbofilia), mas durante anos o pombo-correio manteve sua importância como mesnageiro. Isso me fez pensar num personagem bíblico de uma perspectiva diferente.
De personalidade cômica, se não fosse trágica, ele tem como nome hebraico Yonah, cujo significado é “pomba”. E se nos permitirmos conexões “divertidas” entre as pombas bíblicas (uso a palavra “divertidas” porque podemos fazer certas comparações, mas que o texto bíblico em si não intencionou), podemos associar algumas figuras que enriquecem nossa visão da missão de Jonas como pombo-correio da salvação. Uma pomba foi o pássaro que Noé soltou para verificar se o nível das águas diluvianas havia baixado. Uma pomba é o símbolo bíblico do Espírito Santo, cuja missão é convencer “o mundo do pecado, da justiça e do juízo” (Mateus 3:16; João 16:8). O profeta era a pomba saída das mãos do Eterno para revelar ao Universo se as águas de perversidade da cidade de Nínive haveriam de baixar. Era Yonah, a pomba com a missão de convencer Nínive do pecado, da justiça e do juízo (Jonas 1:1; 3:1 e 2).
Uma das poucas referências bíblicas a Jonas, fora do livro que leva seu nome, encontra-se em 2 Reis 14:25, que nos informa que ele era da cidade de Gate-Hefer. Essa cidade, conforme o relato de Josué 19:10-16, foi dada como herança à tribo de Zebulom, à qual o profeta provavelmente pertencia. Mas a Pomba de Zebulom, convocada por Adonai para confrontar e alcançar os ninivitas, estava mais para um animal de montaria, obstinado e empacado em seu medo, preconceito, ódio e rebeldia. O relato de Jonas salienta um contraste gritante entre o caráter missionário e misericordioso do Eterno e a personalidade exclusivista e justiceira do profeta. Enquanto Adonai o convoca a levar uma mensagem de juízo que cause arrependimento e conversão (como relatado no cap. 3), Jonas foge, revelando posteriormente que sua motivação era não dar aos mais de 120 mil habitantes de Nínive a oportunidade de contrição e salvação (Jonas 4:1 e 2). A Pomba de Zebulom estava tão desorientada, que mesmo contemplando o arrependimento do povo de Nínive (final do cap. 3), ainda se acomoda em um lugar, à distância segura, esperando ver a destruição da cidade (4:1-5). Faltou-lhe apenas os óculos 3D e o balde de pipoca encharcada de manteiga. E sua frustração foi tão intensa pela salvação dos ninivitas, que Jonas desejou a própria morte (4:3 e 9).
O livro de Jonas nos traz muitas lições reflexivas, mas o que mais me impressiona, é o fato de Adonai usar a missão do profeta para corrigir o próprio profeta. Era um pombo-correio que carecia da própria mensagem! Os marinheiros pagãos são os meios inesperados do Eterno para confrontar Jonas sobre sua identidade e missão (1:8). O esboço de compaixão de Jonas por aqueles marinheiros, que poderiam morrer por sua causa, deveria tê-lo levado ao mesmo entendimento sobre os ninivitas – eles irão morrer por minha causa, se eu não os advertir (mas era isso mesmo que ele queria!). De dentro do peixe (ventre da morte, cf. 2:2) ele reconheceu que “a salvação vem do SENHOR” (2:9), e seu pedido por livramento foi atendido. Reconhecendo que a salvação é prerrogativa divina e recebendo o perdão divino pela sua rebeldia, o que lhe possibilitou ver a luz de um novo dia, o profeta deveria ter olhado para as pessoas de Nínive, ao se voltarem para o Eterno, com a mesma misericórdia que Adonai olhou para ele, quando clamou por salvação.
Por último, a lição da planta (4:6-11). Enquanto Jonas esperava para ver o que aconteceria à cidade, ainda numa perspectiva de juízo destruidor, o SENHOR lhe presenteou com uma planta que lhe deu sombra. Mas na madrugada do dia seguinte, uma lagarta feriu a planta, que murchou. O desontentamento e ira de Jonas logo alforaram. Então, o Eterno lhe deu uma preciosa lição: se você tem pena dessa planta, embora não a tenha cultivado, como Eu não terei pena das pessoas de Nínive, que são também meus filhos? Será que a Pomba de Zebulom aprendeu a lição? Não sabemos! Mas você e eu podemos aprender. O livro de Jonas começa com uma mensagem de juízo e termina com uma mensagem de misericórdia e salvação. Isso porque juízo e salvação caminham juntos. Só haverá juízo destruidor para quem não quiser misericórdia e salvação. Mas nunca esqueça: para desejarem a salvação, as pessoas – que são o mais importante para o Eterno – precisam receber a mensagem dele. Para isso, ele continua se servindo do bom e velho sistema de pombos-correio do evangelho, no qual seus mensageiros são capazes de ir ao lugar determinado e depois retornar exatamente para seu Dono. Você faz parte desse sistema? Ou você é que está precisando dele, como a Pomba de Zebulom?