16/05/2024
Há 12 anos a escritora Lina Pedro dedicou-me este texto.
Agradecido! Sempre no coração Lina Pedro!
Lina Pedro
16 de maio de 2012 ·
Dedicado ao melhor fotógrafo que conheço, Dario Queiroz
Aquele sacana tinha garra, era o Diabo em figura de gente, aí se era, mas decidi dar-lhe a volta e jurei a mim mesmo que lhe conseguiria sacar as melhores expressões.
Aproximei-me á cautela, com um rolo na mão e deixei-o cair aos pés dele, para ver qual era a reação.
Nada! Não me passou bilhete absolutamente nenhum, agachei-me simulando um tombo desajeitádo, a modos de palhaço tonto,catrapum, mandei-me para o chão á medida que pensava para comigo próprio, este numero é de luxo, não há nenhum p**o que lhe resista, olhei pelo canto do olho e o catraio olhava-me então desta vez com um olhar de curiosidade aguçada, um sorrisinho sarcástico no rosto miúdo, e ar de quem pensava- bem feito!!
O primeiro passo estava dádo,fui avançando atempadamente, numa tagarelice que variava com a mãe,incluindo-o a ele com o intuito de o soltar á medida que mudavamos de estúdio.
O "baixinho" teimava em dizer que não queria fotografias, e eu continuava a dar-me ansias em lhas tirar.
Fotógrafo que se preze, tira fotografias nem que seja a Satanás, e não era um p**o de três anos de cara reguila, que me ia fazer baixar a fasquia, mas ja me estava a dar nos nervos, confesso.
Simulei que me ia esconder atras de uma coluna, após ter ajeitado o cenário, numa pressinha, não fosse a "fera soltar-se", (com esta mitra pequena, nunca se pode prever, o que vai dar)cobri a cabeça com um pano,nada! Continuava a olhar para mim e a fazer-se difícil.
Mandei-me para o chão uma e outra vez e consegui ao fim de um esforço "razoável", em que pingos de suor ja me inundavam a testa, obter alguma empatia...
Disparei o flash, uma e outra vez, e o fulaninho alterava a expressão, entre o admirádo e satisfeito, talvez vencido, ou simplesmente penoso pela série de disparates que eu, um fotógrafo conceituado, estava a ser obrigado a fazer, acho que sim, estava profundamente convencido, que o gajo tanto me "gozou" que ficou com pena de mim.
Aí raios, mas que gozo me dava, aquelas bisnagas assim, que me desafiavam no campo real, mas que uma e outra vez captada a precisão, ficavam perfeitos, estáticos numa tela,como moscas presas na teia, mas sempre com ar de Imperadores.
Apelidei-o de "batatinha", e confesso, que aquela palavra descabida, pareceu fazer luz aquela alminha, que se descontraiu e me deixou contrariádo, fazer o que sei de melhor- fotografar!
E que bem ficou, aquele "bera" .
E que satisfeito fiquei após visualizar que o meu esforço, tinha valido uma vez mais a pena.
Lina Pedro
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