07/09/2022
UMA ESCOLA POR FAVOR
Os trabalhadores rurais Maria e Adolfo Romeiro compraram um terreno no Vale da Mata e colocaram o nome de Sítio Brasil.
Terra boa para a lavoura e criação de animais, no município de Andaraí, na Chapada Diamantina.
O casal sorria, a fartura chegou.
Vieram os filhos e a felicidade se multiplicou com a casa cheia de crianças brincando.
Seu Adolfo trazia da roça cachos de banana e se deliciava vendo as crianças devorar as frutas.
O prazer de Dona Maria era ter o colo cheio de crianças para dar banho, pentear os cabelos e lhes contar histórias.
Adolfo era apaixonado por plantar e colher, um agricultor nato.
O maior orgulho dele era contar quantos sacos de feijão colheu na última safra.
- Este ano se a chuva ajudar, vou pegar mais feijão.
Também plantava mamona, milho e mandioca. Podia cantar a canção:
Eu queria ter na vida simplesmente
Um lugar de mato verde
Pra plantar e pra colher.
Ter uma casinha branca de varanda
Um quintal e uma janela
Para ver o sol nascer (01).
Dona Maria era dinâmica, como poucas mulheres do seu tempo. Montava a cavalo e fazia as viagens para comprar açúcar, café, sal, arroz e sabão.
Na safra, adquiria tecidos para a roupa dos filhos.
Cuidava com zelo dos seus próprios bezerros cevados, leitões, carneiros, perus e frangos capões.
Era daí que vinha o dinheiro para a roupa de todos.
Em meio a alegria, a tristeza também brotou no seio da família.
Os filhos não tinham escola para estudar.
- O que dá pra rir dá pra chorar. - Bem disse o poeta (02).
O casal agora tinha um problemão, sem solução.
O sono faltava à noite:
- Onde tem uma escola? – Maria perguntava.
- Como essas crianças vão estudar? – Adolfo indagava também.
- E agora José? A festa acabou. (03).
As canções alegres do rádio de pilha não faziam mais sentido.
Tinham tudo que o sertão dá, mas a tristeza crescia.
As vistas já não iam para o verde do campo e as montanhas de pedras, agora o olhar para baixo só via o chão duro e seco.
O sorriso acabou.
Faltava a escola para as crianças.
(01) Canção “Casinha branca”, de Roberta Miranda.
(02) Música de Billy Blanco.
(03) Poesia de Carlos Drummond de Andrade.